Jovem trio francês estreia com pinta de gente grande e conceituada
Por Luiz Athayde
Há exatamente um ano, quando noticiei o incendiário single “Temple”, do trio instrumental Jasual Cazz, eu não poderia imaginar que iria me deparar com um álbum tão vistoso como o debut Memory Guard.
A assinatura é de Théo Boero (baixo), Japhet Boristhène (bateria) e Pierre-Louis Varnier (teclado), formação de Lyon, na França que tem o jazz fusion como estrela-guia. Assim como boa parte da nova safra centrada em Paris.
Ao vivo eles soam ainda mais impressionantes, inclusive por se tratar de três pessoas em um palco; tamanha a energia emanada quando tocam.
No entanto, o registro recém-chancelado pelo selo Chuwanaga conseguiu sua força vital e criativa em nove faixas, incluindo a poderosa “Temple”.
O groove, claro, é a máxima para um passeio repleto de passagens intricadas e extremamente cativantes. Isso, em uma via. Já na outra, climas, digamos… consideravelmente mais reflexivos; indo da sépia dos anos 70 ao lado futurista da década de 80.
É por meio dessas viagens que “Tell Tale” abre o disco como uma espécie de boas-vindas. “Mèches” dá sequência ao prover ambiências que caberiam com perfeição numa trilha sonora policial.
Sem perder o fio da meada, “Better Before” mescla a sofisticação de Miles Davis e o conhecido dinamismo de outro mestre, Herbie Hancock. “Liberty City” endossa os synths de um jeito vintage, e por vezes traz um certo clima progressivo à trama sônica.
“Jungle Meat” chega mais como um interlúdio. Infelizmente. A nota triste é justamente por ser uma das faixas onde a trinca simplesmente quebra tudo, esbanjando bom gosto na hora de soar virtuoso. Em outras palavras, merecia pelo menos mais 5, 6 minutos de duração.
Tristeza que nada: “Double Comète” (não à toa, um dos singles que antecederam o disco) supre com folga a carência sentida na faixa anterior por seu mergulho no balanço da disco music.
“Libellule” volta à introspecção, mas te envolvendo logo na primeira nota. Trata-se de uma pegada mais espacial – cortesia novamente do synths –, também denotando uma influência de Jean-Michel Jarre.
Na caminhada para o desfecho, a futurista “L’Arche” introduz o ouvinte a um planeta estilo Ygam – se nunca assistiu à animação Planeta Fantástico, faça isso agora – com direito a cenas de fuga e tudo. A diferença é que neste caso, Pierre, Théo e Japhet não estão correndo dos Draags, mas da mesmice.
Bom, o que dizer da cereja do bolo? Ainda hoje, “Temple” é o melhor momento do trio, de longe. Tanto que periga a destoar do restante o material. O puro suco da fusão de estilos dessa esfera jazzística está nesses poucos mais de três minutos; viciante na sua totalidade.
Por outro lado, justiça seja feita: não faria sentido compor 9 faixas iguais. E esse é um dos motivos de Memory Guard soar tão surpreendente.
Ouça o álbum na íntegra pelo Bandcamp, ou a seguir: