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Erkki Kurenniemi no estúdio da Universidade de Helsinki em 1971. (Foto: Martti Brandt)

Erkki Kurenniemi: conheça o pioneiro da música eletrônica finlandesa

Saiba quem foi o desbravador da música eletrônica daquele gélido país

Por Luiz Athayde

Quando se fala em música eletrônica, em especial a feita na Finlândia, os primeiros nomes que imediatamente tomam à cabeça são os estelares DJs Orkidea e Darude – esse último com direito a carimbo na trilha sonora da novela global “Malhação”. Mas sua gênese na terra dos mil lagos data do começo dos anos 1960, inclusive quando os “trabalhadores da música” Kraftwerk sequer sonhavam em assinar carteira no meio sônico: como o artista, designer e filósofo Erkki Kurenniemi.

Nascido Erkki Juhani Kurenniemi em 10 de julho de 1941, sua faceta eletrônica é apenas uma variante de uma extensa carreira iniciada no começo da década de 60, como designer de instrumentos no Departamento de Musicologia na Universidade de Helsinki. A convite da entidade da musicologia do país, Erik Tawaststjerna, construiu um estúdio exclusivamente voltado para a música eletrônica dentro da universidade, criando sua  série de sintetizadores nomeados DIMI, assim como instrumentos eletrônicos personalizados para artistas da época. A principal característica dos seus sintetizadores se davam pelo design totalmente digital, baseado no cálculo dos circuitos a fim de determinar o som da batida. 

Erkki Kurenniemi em 1965 (Foto: Reprodução/Google)

Igualmente entusiasta por videos, Kurenniemi possui uma respeitável filmografia, compreendendo em 14 curtas experimentais em 16 mm, com temas envolvendo natureza, ambiente humano, viagens, sexo e tecnologia; todos gravados entre 1964 e 1971. Apenas um, Ex nihilo, foi apresentado publicamente ao ser concluído – e consequentemente avaliado pelo Conselho Finlandês de Classificação de Filmes. 

De 1971 à 1974, criou um diário, não em escrita, mas através de tapes. De 1980 em diante, seu foco girou em torno de filmagens e fotografias de sua vida pessoal, a fim de servir como material para um registro (de elemento central, a sua vida, obviamente) póstumo. 

Erkki Kurenniemi (Imagem: Reprodução/Youtube)

Dos paralelos traçados em sua carreira, a mais curiosa é certamente a sua pegada científica. Fazendo naturalmente conexões musicais – afinal, música é sinônimo de números –, apresentou sua teoria matemática na música no artigo Teoria das Harmonias em 1985, e Harmonias Musicais são Conjuntos Divisores em 1988, no qual ele define a harmonia como uma função do conjunto divisor do número inteiro. Harmonia pode ser lida pela interpretação de sucessivos números com intervalos.

As harmonias são simétricas, ou seja, suas relações de intervalos permanecem constantes, independente do conjunto divisor ser lido de trás para frente e vice-versa. Do mesmo modo, todos os intervalos e acordes podem ser expandidos em uma harmonia através do cálculo do máximo divisor comum (MDC) e seu mínimo múltiplo comum (MMC), resultando na harmonia como H (MDC / MMC). Segundo a teoria de Kurenniemi, tanto maiores quanto menores acordes geram a mesma harmonia, o que em sua opinião explica o status tonal da música ocidental.

No começo da década de 1990, seus artigos se voltaram para a física, ao inovar escrevendo sobre redes trivalentes no qual ele chamou de ‘Teoria de Campo Gráfico no espaço, tempo e matéria’.

Erkki Kurenniemi

E finalmente, sobre música propriamente dita – se é que isso é possível aqui –, suas composições são, em sua maioria, experimentais e eletroacústicas, feitas no estúdio da Universidade de Helsinki. Em 2002 alguns fragmentos foram devidamente compilados por uma desconhecida, mas generosa alma chamada Mika Taanila, formando o álbum Aanityksia – Recordings 1963-1973, consistindo em um curioso degelo desse período para os amantes dos bons e estranhos fósseis discográficos.

Ouça “Inventio/Outventio”:


Após uma longa batalha contra uma doença desconhecida – na verdade, não divulgada –, Kurenniemi perde a batalha e vem a falecer no dia 1 de maio de 2017 em um hospital na capital finlandesa aos 75 anos de idade. Erkki Kurenniemi mostrou que a música pode ser tão intuitiva quanto cerebral; ao ter lançado mão de experimentos que ultrapassaram a barreira da música em uma época que mesclar nuances era algo que ainda dava seus primeiros passos. Foi pioneiro não apenas em seu país, mas em todo o mundo.

Erkki Kurenniemi (Foto: Divulgação)

Ainda:

+ Até a sua morte, Erkki foi um pesquisador independente e especialista em inteligência artificial.

+ A composição “Andropodien Tanssi” (1968) foi em parte lançada pelos seus compatriotas progressivos Wigwam, no álbum “Wigwam: Tombstone Valentine” em 1970, sob o título “Dance of the Anthropoids”.

+ Em 2011 Kurenniemi recebeu da então presidenta da Finlândia, Tarja Halonen, a medalha da Ordem do Leão da Finlândia, além de anteriormente ter ganho o Prêmio do Ministério da Cultura e Educação da Finlândia e eleito como membro honorário da Universidade de Helsinque, em 2003 e 2004 respectivamente.

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