Sucessor de ‘Past, Present and Future’ é marcado pelas possibilidades do chamado “alternativo”
Por Luiz Athayde
A essa altura é bem complicado algo novo na esfera alternativa conhecida como shoegaze. Adicione aí o dreampop, ethereal, noise o que mais puder ser alternado (alternativo) na cartilha que revelou pilares como My Bloody Valentine, Lush, Ride e Slowdive.
O que resta, para formações posteriores, é fazer o melhor possível para não soar como um pastiche dos nomes acima citados, ou, se for uma cópia, que seja a mais honesta possível.
Mesmo editando EPs e álbuns desde 2007, a banda californiana Echodrone consegue se encontrar em uma zona cinzenta no que diz respeito a esses polos. E por mais incrível que pareça, é justamente por conta da mistura que fazem. Ou melhor: por não se prenderem a uma fórmula. E o apogeu disso é o novo álbum Resurgence, recém-editado via carimbo Dome A Records.
A banda? Jackie Kasbohm (vocais), Eugene Suh (guitarras, sintetizadores, piano), Brandon Dudley (baixo e barulhos afins), Mike Funk (sintetizadores) e Andy Heyer (bateria).
E olha, tem de tudo. De sopros gelados de post-rock logo na faixa de abertura “Midnight Frost”, passando por flertes doom com “Grain of Salt”, a pop para lá de sonhador em “Diamond Needle”. E nem preciso dizer, mas já dizendo, que as vozes de Jackie só contribuem para o ouvinte levitar.
A faixa escolhida para a produção videoclíptica acabou sendo “Heart On Sleeve”. De teor nostálgico e principalmente trazendo um apelo bem pop – ainda que desconcertante –, ela traz várias imagens televisivas dos anos 80. Na mosca.
Outra que vale ser mencionada é “My Life”, por destoar do restante do álbum. Tanto que se em algum momento você se ver nos 90, está tudo certo. O caminho é esse.
Como eles adoram uma sonoridade etérea, o fechamento ficou com a “A Ghost And A Walkman”. Qualquer conexão cheia de neblinas com Chapterhouse pode não ser coincidência, mas isso pouco importa.
A nível marítimo, ressurgência é um fenômeno oceanográfico que consiste na elevação de águas subsuperficiais e mais frias para camadas superficiais no oceano. E é disso que Ressurgence se trata, especialmente em relação aos seus últimos trabalhos; o gélido EP Everything Starts To Be A Reminder (2019) e o álbum Past, Presente and Future (2018); ou seja, o peso de um com a brandura do outro, fazendo deste o trabalho mais completo da banda até aqui.
Ouça Resurgence na íntegra pelo Bandcamp.
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