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Foto: Robin Guthrie, Theo Croker e Actors (Créditos: Divulgação, Divulgação, Obidigbo Nzeribe)

As 10 Melhores Escavações Sonoras de 2021

Ano para lá de frutífero, apesar de todos os percalços oriundos da pandemia

Por Luiz Athayde

Provavelmente, a frase que você mais leu ou ouviu nos últimos tempos foi: “esse foi um ano difícil…”, mas é por aí mesmo. Com a classe artística não foi nada diferente, mas, de alguma forma, muita gente conseguiu resistir e, ainda assim, produzir. E muito.

Nossa tradicional “lista injusta” não envolve necessariamente os melhores, mas os que julgamos ser nossas descobertas mais surpreendentes, impactantes; aliadas as questões mais técnicas, como qualidade do material apresentado.

E sim, teve muita, muita coisa boa rolando, e como sempre, fizemos a seleta da seleta, com 10 registros que saíram do forno, que dificilmente ficarão apenas em 2021. Confira.


10. Snapped Ankles – Forest of Your Problems

Brigada performática, inglesa do leste de Londres, conhecida no subterrâneo “faça você mesmo” por suas noites para lá de criativas, envolvendo recortes de filmes dos anos 60 e muitos experimentos com sintetizadores.

2021 foi um ano de mais loucuras sônicas, geradas sob influências que passam especialmente pelo synth, dance e sobretudo post-punk.

Mais que um álbum, Forest of Your Problems é um dos registros que praticamente abrem o novo Zeitgeist do pós-punk; mais voltado para experimentações do que, propriamente, um apanhado de sons retilíneos. Conexões com Devo, Simple Minds, Talking Heads e demais falanges art pop. Instigante define.


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09. cEvin Key And The Subconscious Electronic Orchestra – Resonance ou X̱wáýx̱way

A primeira impressão ao ouvir Resonance é que o produtor e experimentalista canadense Kevin William Crompton está soando mais Skinny Puppy em seus projetos solo do que o próprio Skinny Puppy! A exemplo de Nivek Ogre, seu companheiro de banda, cEvin Key inconscientemente retomou nuances outrora exploradas em álbuns como Too Dark Park (1990), The Process (1996) e The Greater Wrong Of The Right (2002).

Mas não é apenas por isso que X̱wáýx̱way – o título se refere a aldeia homônima, no Canadá, lar dos indígenas Squamish – um disco fantástico. As composições deste adicto em sons nada convencionais mas, ainda assim, climáticos, ganhou dose extra de vida ao contar com participações de nomes como IAMX, Edward KaSpel e Traz Damji.

Petardo com todos os “trejeitos” desbravadores do IDM (Intelligent Dance Music), mas proposto de uma maneira que só Key consegue fazer.


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08. Pontagulha – Perante o Caos

O que dizer de uma das mais gratas surpresas surgidas em Terra Brasilis nos últimos tempos? Os jovens entusiastas dos sons oitentistas de Uruburetama, Ceará chegaram com tudo na classe de 2021 esbanjando criatividade e sagacidade perante esse caos pandêmico.

A estreia discográfica dos instrumentistas Lucas Caducco, Guilherme Santos e Gabrel Pelenson como uma formação traz a pegada do pós-punk, a sombriedade do gótico e o apelo popular do synthpop e ítalo-disco. Replay obrigatório.


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07. Echodrone – Resurgence

Desde 2005 esta banda californiana se mantém visível na linha do horizonte shoegazer, mas seu novo álbum mostra detalhes que, ao menos este ano, ninguém ousou explorar.

Imagine uma síntese do melhor dos melhores (ou os mais bem-sucedidos) nomes desta esfera alternativa, como os refrãos grudentos do Ride, a profundidade etérea do Slowdive e o tino dançante do Lush, mas com uma assinatura própria, adquirida com os anos de estrada e experiência discográfica. Hipnótico, pesado, climático e extremamente melodioso.


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06. Mdou Moctar – Afrique Victime

Ventos desérticos no blues, vindos especificamente do Níger, norte do continente africano. Ou Mdou Moctar, alcunha artística do vocalista, guitarrista e compositor Mahamadou Souleymane, uma  das “vítimas” de um dos sons mais eletrizantes do Saara.

Afrique Victime é político, mas nem por isso, menos festivo. Pelo contrário, apresenta 9 composições cheias de vida, e isso inclui doses cavalares de psicodelia e o groove único da música tuaregue. Além de reafirmar sua ancestralidade ante os ‘maneirismos’ industriais do pop ocidental. Já nasceu clássico.


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05. Nation Of Language – A Way Forward

A classe é de 2021, mas os alunos de Brooklyn, Nova York se formaram na velha escola do synthpop! Aidan Noell (sintetizadores), Michael Sui-Poi (bateria) e o vocalista Ian Richard Devaney compõem o grupo que apresentou o registro, digamos, mais “apaixonado” pelo estilo nas últimas estações.

E não é para menos. Quando se sabe beber direito na fonte que revelou Orchestral Manoeuvres in the Dark (OMD), Blancmange, Depeche Mode e o alemão Alphaville (dentre outros), o resultado não pode ser outro a não ser uma embriaguez de músicas melodiosas e grudentas, com batidas que faz o ouvinte passar a impressão que está tremendo de nervoso, quando na verdade, as pernas estão mesmo é ansiosas para levar o resto do corpo para alguma pista de dança.

Não bastasse isso, os temas também trazem a angústia de quem se divide entre a aspiração artística e as mazelas atribuídas à classe trabalhadora. Discaço.


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04. Vanishing Twin – Ookii Gekkou

A combinação de nacionalidades dentro de uma banda costuma ser benéfica por si só, especialmente quando os integrantes se guiam por apenas um prisma, neste caso da amorfia.

Composto por gente de inglesa de Londres e Cambridge, e também da Itália e do Japão, a formação em questão não se prende às barreiras da música – como se a mesma tivesse uma –, e adentram em uma salada artística que vai do dadaísmo ao space jazz; do surrealismo ao pop; do futurismo ao psychedelic funk, e intervenções afins.

Ookii Gekkou (“O Grande Luar” em japonês) se destaca por provocar o ouvinte a descobrir suas inúmeras camadas temporais, trazendo um formato pouco usual de absorver uma obra de arte: pela audição.


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03. Actors – Acts of Worship

Medalha de bronze para os atores de Vancouver! Configurando uma das bandas mais promissoras da atualidade (bom, eles já vão para 10 anos de existência), o ACTORS sabe onde está pisando e, principalmente, o que está fazendo.

Não à toa, mostraram que poderiam abrir o leque do pós-punk ao flertar com outras variantes dos anos 80; cortesia do amor incondicional do capitão Jason Corbett por cinema, Bryan Ferry e Roxy Music.

Como toda cena e onda musical, existem os que sabem aproveitar melhor suas referências e criar algo para a posteridade; e os genéricos, que morrerão no mar do esquecimento. Mas graças a Acts of Worship, os canadenses serão lembrados por muitos, muitos anos. Torpedo sonoro feito para explodir mentes e pistas (de dança).


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02. Theo Croker – Blk2life || A Future Past

Compor misturas no universo do jazz está longe de ser uma novidade, tanto que inventaram o tal rótulo jazz fusion (ou jazz rock) para fácil assimilação do público e mídia. Mas não restam dúvidas que o trompetista norte-americano Theo Croker chegou a um novo patamar com o sucessor do já excelente Star People Nation (2019).

Blk2life || A Future Past é uma saga afrofuturista de aproximadamente 50 minutos sônicos, sobre o ‘resgate da cultura para a cultura’, como o próprio artista diz: “Nosso herói recebe uma transmissão de seus ancestrais durante a meditação que o coloca em uma missão de elevar as vibrações do planeta por meio de uma música que desafia os limites de um ‘gênero’ e liberta a cultura da ameaça iminente de gentrificação comercial”.

Para a jornada, Croker contou com um elenco que foge do mensurável, que inclui, por exemplo, o rapper haitiano e ex-Fugees, Wyclef Jean, e a cantora brasileiro-norueguesa Charlotte Hall Dos Santos. Transcendência jazz com boas rajadas de R&B e flertes eletrônicos. Aquele prata com gosto de ouro.


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01. Robin Guthrie – Riviera

Medalha de ouro para uma das mentes criativas mais singulares dos sons nublados. Apesar do defeito de ser um EP, Riviera representa a genialidade do compositor escocês que já nos presenteou com álbuns como Garlands (1982), Head Over Heels (1983) e Treasure (1984).

O registro é inteiramente instrumental, e veio na sequência de outros lançamentos ao longo do anos, mas, de certa forma, este carrega toda a carga melódica, angelical e por (muitas) vezes, de baixas temperaturas. Aquelas, que o ambient pop permite.

Curto, intenso e nada ensolarado; tipo Cocteau Twins, depois de um belo banho no Mar do Norte. Além de ser Guthrie inspirado como sempre.


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