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Drab Majesty – An Object in Motion [EP]

Projeto experimental ou mudança radical? Uma experiência sensorial com o novo registro

Por Márcio Heleno 

Após o excelente Modern Mirror (2019), o duo estadudinense Drab Majesty alcançou o status de “fenômeno” da new wave/darkwave ou, no mínimo, uma das joias da coroa do synthpop atual.

Figurando o terceiro disco cheio, Modern Mirror é um liquidificador com pote de ouro com o melhor do estilo. Guitarras com linhas melódicas marcantes, batidas inteligentes e uma mixagem etérea. No mesmo, misturaram She Past Away com New Order!

Drab Majesty (Foto: Divulgação/Press)

No entanto, no dia 25 de agosto de 2023, chegou o novo EP, com 4 músicas, intitulado An Object In Motion.
Admito que a empolgação estava tomando conta de todo meu ser antes de ouvir. Degustei a expectativa da melhor forma: esperei um horário oportuno, nas minhas rotineiras caminhadas, para apreciar a obra desse duo excêntrico que lançara um excelente álbum 4 anos antes.

Ao apertar o play, “Vanity” começa com uma bela ambiência, típica do Drab Majesty. No segundo trecho da música tenho a primeira surpresa: participação de Rachel Goswell, vocalista da banda Slowdive. Ficou muito boa a condução vocal dos dois.

Os minutos foram passando e eu fiquei esperando uma batida, um ritmo, um sinal do que já é esperado no subgênero, mas o que vem é somente ambiência, mais ambiência e uma leve dinâmica na metade da faixa. Mas nada empolgante.

Traduzindo, “Vanity” significa “vaidade”, e me faz refletir se essa canção não seria exatamente uma demonstração vaidosa desse EP. Estranho.

Mas também pensei que fosse só uma excêntrica abertura, e que agora sim, na próxima faixa, eles me entregassem parte do que sempre fizeram. É quando surge “Cape Perpetua” e, como um susto, me pego abrindo o aplicativo de streaming de música para averiguar se estava no álbum e no artista certo.

Por quê disso? Seu início me lembra Geraldo Azevedo ou Robertinho de Recife, no melhor que deram nas faixas famosas do álbum Antologia Acústica (1997), de Zé Ramalho.

Sim, senhoras e senhores! O Drab Majesty estava desenhando dedilhados no melhor estilo repentista e nordestino jamais imaginado por este ser vivo! Uma guitarra eletroacústica de 12 cordas!

Pesquisei muito na internet para verificar se o Drab havia se inspirado em alguma obra da música nordestina, mas não achei nada. Um misto de surpresa e incompreensão toma conta nesta audição.

É uma faixa instrumental e dura pouco mais de 5 minutos. A sensação é de uma viagem a um lugar com solo plano, desértico e montanhas ao horizonte, dotada de alguma melancolia no ar. Triste e estranha. Uma imersão sonora que não me deixou nada além de pensativo.


Sem descanso e com pouco intervalo vem a deliciosa “The Skin and the Glove”. E aqui não há como não dar o braço a torcer: Shoegaze, Dream Pop e até mesmo Madchester serviram de fonte.

Para terminar, a instrumental “Yeld to Force”, com seus (espantosos) 15 minutos de duração.

A pegada dedilhada se assemelha com a instrumental anterior à esta. Ambiência aqui chega a ser maior, pois os sintetizadores fazem uma cama por toda a faixa.

É também onde eles repetem ao máximo a sonoridade esquisita. Apenas camadas em cima de mais camadas sonoras. Embora infame, não chega a ser massante.

Com fones de ouvido a um bom volume, parei a caminhada e sentei-me numa cadeira de padaria, em um local reservado ao café. A atendente veio e eu fiz apenas um sinal, formalizando um cafezinho.

Ao sair dali, a atendente me deixou só com meus pensamentos. Era apenas eu, o fone, essa música e, à minha frente, um universo sendo desenvolvido a partir de um guardanapo. Me deixou paralisado e absorto.

Durante mais de dez minutos, a sensação foi de desligamento total, um descolamento da realidade e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para refletir sobre a minha própria vida que, como a de todos, contém desafios, dúvidas, erros, medos, desesperanças…

Senti medo do mergulho. A estranheza, que era só pelo álbum, diferente de tudo que o Drab Majesty havia feito até agora, era parte de mim também.

O café chega frio e ainda faltam 3 minutos para o fim da faixa. O universo, que se criava diante de mim ao som de “Yeld to Force”, agora tinha cor: negro como o café. O líquido morno na pequena xícara à minha frente, parecia ser toda a minha vida passando num instante.

Assim que a música, o EP e o café terminam, levanto-me da cadeira. Na sequência, parto para minha casa em silêncio. Sepulcral de quem não entendeu o que foi essa obra do Drab Majesty. O mesmo de quem fez um mergulho profundo ouvindo uma faixa tão estranha e sensorial.

Não posso dizer que o Drab Majesty acertou como em Modern Mirror. Mas também há como afirmar que eles erraram em An Object In Motion. De qualquer maneira, poucas vezes tive uma experiência sonora nesse nível.

A indicação é ouvir sem preconceitos e certo de que o Drab Majesty, neste EP nos presenteia com: introspecção, isolamento, experimentalismo, mudança radical, mas sobretudo SURPRESA.

Ouça An Object in Motion na íntegra a seguir:




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Sobre o autor

Márcio Heleno

Músico desde 1992, amante das várias vertentes do rock, comecei como ouvinte de grandes bandas de rock evangélico até em meados dos anos 90, enveredar por novos caminhos, no caso, o heavy metal britânico (Venom, Iron Maiden, Saxon, etc), o hard rock setentista (Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, etc) e algumas bandas de rock progressivo brasileiras (O Terço, Casa das Máquinas, etc) dos anos 70 também. Depois me vi deparado ao som do progressivo inglês dos anos 60 e 70 e ali, já estava apaixonado por ouvir e descobrir essas bandas, estilos e subestilos.

Na década de 2010, em busca da realização de mais um projeto musical (sim! esta é a vida do músico brasileiro!) passei a entender melhor o universo punk e pós punk dos anos 80 e a new wave propriamente dita da década também. Relacionar esses clássicos com bandas modernas é uma delícia e me vejo sempre compelido a escrever.

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