A palavra de ordem é manter as baixas temperaturas, mas com doses sutis de melodia
Por Luiz Athayde
O black metal continua sendo para a Noruega como o futebol outrora foi para o Brasil. Dito isso, sabe-se que dificilmente sairá algo fora da linha reta e, se for o caso, virá, de forma costumeira, com um considerável nível de qualidade.
Em relação ao trio Djevel, não se trata de sair dos caminhos retilíneos deste gênero responsável por tanta controvérsia nos seus dias áureos (anos 90), mas de manter a tradição de vagar pelas sombras e mal aparecer quando houver alguns feixes de luz.
E é bem isso que acontece em Tanker som rir natten, sétimo registro desta banda de Oslo, e o primeiro com a nova formação; tendo, além do vocalista, guitarrista e fundador Trond Ciekals, o baterista Bård Faust (Emperor, Mongo Ninja, Thorns, Blood Tsunami, etc) desde 2017, e o baixista Kvitrim (Black Majesty, Dark Sonority).
São apenas 6 músicas, mas de longa duração e títulos quilométricos; cortesia da temática poética proporcionada aqui. Pelos dois singles anteriormente divulgados, “Englene som falt ned i min seng, skal jeg sette fri med brukne vinger og torneglorier” (“Os anjos que caíram na minha cama, vou libertá-los com asas quebradas e glórias de espinho”) e “Maanen skal være mine øine, den skinnende stierne mine ben, og her skal jeg vandre til evig tid” (“O homem será meus olhos, a estrela brilhante minhas pernas, e aqui devo caminhar para sempre”) já é notória a trilha seguida pelo grupo; gélido sim, e muito, mas com doses equivalentes de melodia.
“En krone for et øie som ser alt, tusind torner for en sønn som var alt” (“Uma coroa para um olho que tudo vê, mil tons para um filho que tudo foi”) surge de forma mais épica, com passagens lentas, nos moldes mais clássicos do viking metal, mas sem perder a dinâmica do álbum.
A faixa homônima soa mais que um interlúdio. Como o próprio título diz, são “pensamentos que vagam pela noite”, mas tocados de uma maneira tão intrínseca, que o ouvinte consegue visualizar a canção, ou a paisagem local.
Quando você pensa que não será mais possível baixar às temperaturas, “Naar maanen formørker solen i en dødelig dans, ber jeg moder jord opp til en siste vals” (“Quando a lua escurece o sol em uma dança mortal, peço à Mãe Terra uma última valsa”) chega para mudar essa concepção. Na verdade é aqui que se encontra o ponto máximo do álbum; gélido como todo o álbum, mas com toques majestosos que só aquela parte do mapa mundi sabe fazer.
“Vinger som tok oss over en brennende himmel, vinger som tok oss hjem” (“Asas que nos levaram por um céu em chamas, asas que nos levaram para casa”) encerra este capítulo com mais peso, mais agressividade, mas também com certa diversidade, já que as intercaladas acústicas e vocais mais como cânticos fizeram toda a diferença.
Em suma, Tanker som rir natten não é aquele disco para mudar o rumo da história, mas configura facilmente um dos melhores discos de black metal do ano por transcrever com coesão e até acessibilidade – além de uma produção impecável – músicas tão densas e com uma atmosfera tão carregada. Mais uma bola dentro dos diabos escandinavos.
Ouça o disco na íntegra pelo Spotify.
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