Grupo canadense começa a ganhar vida própria graças a uma abordagem mais madura
Por Luiz Athayde
Quando lançou Dream Noise em 2019, Capitol parecia a coisa mais fantástica do mundo. Cortesia (como sempre digo) da mistura maravilhosa de shoegaze, dream pop e pós-punk sob baixas temperaturas.
Passado os anos (e alguns singles e EPs), eles voltaram com seu sucessor, Sounds Like a Place. Sensacional? Com toda certeza. Só que de um jeito diferente; mais esvoaçante, maduro.
As abordagens acima citadas seguem, também incluindo notáveis influências de Slowdive e discípulos mais obscuros como Skywave, por exemplo. Em contrapartida, o endosso vai por aquele caminho convencionalmente chamado de indie rock. O que acaba dando um sentindo mais amplo, dependendo de quem faz.
E desta vez, Josh Kemp (vocais, synth), Robert J. Kemp (guitarra), Wes Lintott (guitarra), Matt Lintott (bateria) e Chris McLaughlin (baixo) tiveram uma preocupação maior com melodias, que por vezes se contrapõem com, acredite, experimentações industriais.
A produção foi um trabalho conjunto da banda com Ian Gomes, conhecido por registrar discos da esfera alternativa através de seu estúdio, Union Sound Company. Robert Kemp cuidou de dar um tempero a mais com mixagem e masterização adicionais.
Há também um certo ar de psicodelia espacial nessas explorações, que são perceptíveis logo na primeira música, “Psychomancy”. Ela tem mais cara de introdução do que qualquer outra coisa, mas não deixa de ser um ótimo começo.
Seu caminho se abre para “Long Way From Down”, uma faixa bem atual, com melodias familiares — o finado (?) French Films, da Finlândia, é facilmente uma conexão — e extremamente cativantes à medida que os minutos avançam.
Em “Sound Speed”, dá para dizer que The Jesus and Mary Chain mandou um abraço à la Angels & Airwaves, de tão etérea. Esta, em particular, denota o quão interessante é uma banda não se ater a zona de conforto. Por outras palavras, nem sempre soar acessível. Se bem que, ainda assim, é possível viajar legal…
O namoro com os irmãos Reid (Jim e William) chega a níveis estratosféricos com “Your Heart is Everywhere”; single óbvio por seu apelo melódico em meio à sujeira. “Crooked Knees” é outra que segue os padrões do indie de hoje, com nuances sutilmente correligionárias a Wild Nothing, porém, trazendo vocais mais soturnos.
Mas parece que os caras gostam mesmo de uma boa trip (viagem). E para isso, lançaram mão de interlúdios visuais, como se você visse o movimento de uma cidade fria através de um vidro embaçado. “(Interplay I) Days on Mute” te induz a isso. Já na “(Interplay II) Night Tourist”, a pegada é mais experimental, com efeitos a torto e a direito.
Algumas influências são realmente mais afloradas que outras, e “People & City” é praticamente uma ode ao The Cure. Especialmente da era Disintegration (1989), um dos discos que mais fizeram escola.
Mais distorção à vista. É “Interior Metropol” e seu ar tão despretensioso quanto boa parte da década de 90. A sequência natural foi por outra música de trabalho, “Twenty-Eight in Drag”. Na verdade, essa é basicamente para lembrar que Joy Division é o pai dessa sonoridade.
Contudo, o melhor acabou ficando para o final. Escolher “Evening Season” não poderia soar mais assertivo. Mais uma vez, a banda de Neil Halstead é a estrela-guia na composição mais cativante do álbum. Curiosamente, ela também soa como um ás de espadas da época do registro anterior. Sabe-se lá. O fato é que funcionou.
Mas o que faz de Sounds Like a Place um álbum tão bom? Simples: ter ido na direção contrária do debut. Bom, o nome já diz: “ruído dos sonhos” (‘Dream Noise’), cozinha feito vento gelado na cara. Neste, o lance é a nostalgia, e com isso, a necessidade de desacelerar.
Independente do paladar, a consistência do Capitol é tão presente que conviver nos dois mundos sequer é uma tarefa, mas um deleite. Só que agora, a bola da vez é o segundo item da promissora discografia desta formação de Hamilton, no Canadá.
Ouça na íntegra pelo Bandcamp (merch disponível), ou a seguir.