Segundo álbum da banda de Washington, D.C. surpreende logo nos primeiros minutos
Por Luiz Athayde
A já conhecida “síndrome do segundo disco” é algo que afeta muitas bandas até os dias de hoje, quando estreiam com um registro tão bom que, no subsequente, perdem a mão.
Mas existem outras tantas que sofrem o efeito contrário, como é o caso do Bound, uma banda jovem de Washington, D.C., Estados Unidos, com o seu novíssimo álbum Haunts.
Contextualizando melhor, o grupo formado por Bryan Buchanan (guitarra, vocais), Trish Harris (teclado, backing vocals), Kotu Bajaj (baixo) e Dan Richardson (bateria) apareceu simplesmente do nada com No Beyond, um disco calcado no shoegaze de forte orientação etérea, que mais remetia aos momentos mais gélidos do Slowdive.
Na última faixa daquele mesmo registro, a pesada “Now That It’s Over”. Mas não era o fim, pelo contrário, era o sinal perfeito para este novo trabalho, que praticamente começa de onde parou. E mais: com elementos do chamado post-rock, gótico e até mesmo doom, mas sem ser tão “metal”.
É a primeira impressão que se tem ao ouvir “The Bellows”, a faixa de abertura. Aliás, todas as 9 músicas começam com “The”.
Seguindo com “The Ward”, o álbum faz uma pequena viagem no tempo, quando o também shoegazer Bethany Curve dava seus primeiros passos com Skies a Crossed Sky (1996); até a música crescer a ponto de beirar o progressivo.
O doom metal aparece subitamente com “The Divide”, trazendo uma atmosfera impossível de não associar com o Anathema da era The Silent Enigma (1995), ainda que os flertes eletrônicos se façam presentes de maneira sutil, mas igualmente criativa.
“The Field of Stones” vem logo na sequência, mostrando que o forte da banda é realmente as vocalizações mescladas às longas paisagens sonoras criadas, dando tempo inclusive de arriscar uma certa experimentação no fim.
As temperaturas baixam de vez com “The Last Time We Were All Together”. Curiosamente é a faixa que mais se aproxima do álbum anterior, ou seja, ela diz por si só. Já “The Lot” é quase uma continuação. Sua pegada bucólica faz conexão inconsciente com o Alcest. Em outras palavras, é ethereal wave para ninguém botar defeito.
Como se não bastasse, a tríade etérea fecha com “The Small Things Forgotten”. Inspirada, é onde o shoegaze e o pós-rock se encontram com maestria na curta história da banda. “The Lines” usa e abusa do peso e da sujeira. Por outro lado, é aqui que a banda extrai as melodias mais hipnotizantes do disco.
Quando menos o ouvinte percebe, já está no fim. “The Known Elsewhere” apresenta todos as nuances citadas, e ao contrário de No Beyond, não dá nenhuma pista do que poderá vir a seguir – exceto, talvez pelas batidas black metal aqui e ali.
Mas no momento isso não deve importar, já que estamos diante de uma das novas forças do shoegaze e, sobretudo, um dos lançamentos mais consistentes desta vertente alternativa, especialmente neste – novamente fazendo relação com o título – assombroso ano de 2020.
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