Dinamarqueses novamente ostentam status de uma das melhores formações de ska do planeta
Por Luiz Athayde
Cinco anos se passaram desde que o Babylove & The Van Dangos lançou seu estupendo The Golden Cage. No entanto, como bater de frente com um registro tão cativante? Simples: lançando outro mais ou tão bom quanto.
Eis que surge Leave Me Here To My Quixotic Moods, resultado de um trabalho às escondidas (para o público, claro), calcado em um cuidado fora de série.
Formada em Copenhage, na Dinamarca, a banda tem como norte o som mais empolgante nascido na Jamaica nos anos 60; ska e sua evolução natural, o rocksteady.
Na linha de frente está Daniel Broman, que, além de cantar estrondosamente bem, foi agraciado com um timbre de voz simplesmente perfeito para este gênero musical.
Isso significa que o céu pode (e é) o limite para explorar novas bifurcações sônicas. Coisa que Bjarke Nikolajsen (trompete), Johan Bylling Lang (saxofone), Jonathan Rahbæk (baixo), Jakob Thomhav (guitarra) e Mikkel Szlavik (bateria) também fizeram com maestria nas onze músicas presentes no álbum.
Logo na abertura, “Light it and Run”, é possível visualizar uma simulação involuntária do Toots & the Maytals em um filme de ação, como se feita para um personagem malandro, sobrevivente urbano… e explosivo.
A faixa seguinte dá um melhor parâmetro da diversidade musical dos caras. “The Weight on Your Shoulders” soa sutilmente rock and roll – com solo de guitarra e tudo –, porém, no fim das contas, trata-se de uma grande canção pop.
O que é o ska sem uma boa balada? É onde entra “When it Was You and Me” na jogada. Por outro lado, “Love is Gonna Break Your Heart” traz o estilo no seu formato clássico. Facilmente correligionária a nomes do quilate de The Specials e The Slackers.
Na sequência, “Building Castles in the Sky” apela para uma abordagem mais reggae, sob mote totalmente instrumental. Nem é preciso dizer que figura entre as melhores do disco. “No Nostalgia” retoma o clima de festa típico dessa esfera musical. Cortesia dos metais, especialmente para o solo selvagem de saxofone.
Uma das características marcantes do Babylove é, sem sombra de dúvida, as letras positivas. Só pelo título, “The World’s Not Gonna End Tonight” (‘O mundo não irá acabar esta noite’), dá para entender a que me refiro. Musicalmente, o lance aqui é mais acústico, inclusive tendo o banjo como um extra assertivo.
Por falar em acertar, “Just Wanna Fly Away” é o que há de melhor na escolha de uma melodia grudenta. “Looking at You, Looking at Me” soa como uma espécie de b-side do álbum anterior; tão boa que parece uma carta coringa.
O ponto alto está praticamente no desfecho. Se “The World’s…” te joga para cima, “More Happy Than Sad” te pega pelos braços e diz: “independente do que esteja acontecendo com você, acredite, ainda vale a pena viver”.
Ainda há “This Little Ship of Ours”, que neste caso, faz o papel de encerrar o sétimo trabalho de estúdio dos dom-quixotes (em referência ao título e a capa do álbum) do ska.
Eu até poderia escrever que não dá para falar sobre ska nórdico sem mencionar Babylove & The Van Dangos, porém, isso seria uma injustiça. O nível deles é global desde os primeiros álbuns, e Leave Me Here To My Quixotic Moods só eleva tal status.
Certamente irá reverberar por longos e longos anos. Ouça na íntegra a seguir.