Pademia fez uma das forças motrizes do Ride mergulhar de volta nos anos 60
Por Luiz Athayde
Há males que vêm para o bem. E para o vocalista e guitarrista do ícone shoegazer Ride – e também ex-Oasis e Beady Eye – Andy Bell foi até mais que isso, ao soltar seu primeiro disco solo The View From Halfway Down.
Muitas vezes algumas pérolas discográficas surgem justamente de momentos descompromissados, sem aquela pressão externa (e interna) de gerar outro registro bem-sucedido do, digamos, emprego principal.
E a estreia deste britânico enraizado em Oxford vai por essa via, em 9 faixas que navegam especialmente por mares sessentistas, mas sem deixar de lado as viagens quase etéreas e as melodias grudentas, como na abertura e single “Love Comes in Waves”.
É óbvio que por se tratar de uma caminhada solitária, o músico iria lançar mão sem o menor remorso de outras nuances, e a envolvente “Indica” prova isso, com sua pegada totalmente eletrônica.
“Ghost Tones” denota momentos curiosamente semelhantes às bandas metálicas que citam Ride e Slowdive como máxima influência. Já “Skywalker”, o que dizer? Pegue o The Raveonettes, coloque em uma sala escolar de recuperação e diga: “se liga nesse groove”. Ou um balanço psicodélico pedindo pista de dança. Senhoras e senhores, temos um ponto alto aqui.
“Audrey Drylands Gladwell” chega como a mais intricante, quase como uma jam de Eric Burdon feita nos mesmos campos onde Andy Bell gravou o vídeo de seu primeiro single. Por outro lado, “Cherry Cola” vai de britpop. Inclusive o ouvinte consegue visualizar uma viagem videoclíptica no tempo, quando a MTV era uma constante nas vidas de muitos fãs de música.
Disco chegando ao fim (mas, já?) e “I Was Alone” entra em cena, como a faixa mais entorpecida do álbum, em seu mergulho sem volta à já citada década de 60.
Mais namoro eletrônico, dessa fez de cunho espacial, para fechar bonito. “Heat Haze on Weyland Road” é aquela visão futurista partindo de uma era bem antiga, e mais: não é duvidável que Bell seja um fã de Stars Wars, mas musicalmente isso pouco importa. Aliás, vale dizer que o saxofone deu um tempero extra na música. Sensacional.
Em uma comparação injusta, The View From Halfway Down se alinha mais ao que o Ride fez em This is Not a Safe Place (2019) do que o trintão Nowhere (1990), mas muito mais livre, experimental e vívido, tendo em vista que a única pressão exercida em cima da mente criativa por trás do álbum foi a do confinamento, e para não pirar a cabeça, compôs músicas suficientes para soltar para a galera. Pois é, Andy Bell segue inspirado. E como.
Ainda:
+ Em The View From Halfway Down Andy Bell contou com a ajuda de Gem Archer nas faixas 2, 4, 5 e 6 para a gravação da bateria, do baixo, da guitarra e piano.
+ Quem assina a masterização é Heba Kadry. Arte da capa por Marc Jones.
Ouça The View From Halfway Down no Spotify. Ou abaixo, via Bandcamp.