Estreia do trio escocês estava fadado a se tornar clássico
Por Luiz Athayde
Neste exato dia, do ano de 1982, o Cocteau Twins editava seu álbum de estreia pelo icônico carimbo 4AD.
Na época, a falange escocesa contava com sua formação original, ou seja, Elizabeth Fraser (vocais), Robin Guthrie e Will Heggie (baixo); além da bateria eletrônica Roland TR-808. Importante citar.
Com o punk mercadologicamente morto e a new wave tendo desdobramentos açucarados indo do Duran Duran ao Kajagoogoo, nomes como The Cure, Siouxsie & the Banshees e Bauhaus percorriam o caminho da penumbra. E na mesma geografia sônica, veio o trio com Garlands, logo após o cartão de visitas na forma do EP Lullabies, também da classe de 1982.
Mas até chegarem ao processo de entrar no Blackwing Studios em Londres, Inglaterra, e terem ninguém menos que o dono do próprio selo, Ivo Watts-Russel na produção do álbum, rolou uma mini-saga. Robin Guthrie relembrou com avidez:
“Fizemos duas fitas e fui para Londres com eles e dei uma para Ivo e outra para John Peel. Não tínhamos telefone, então anotei o número da cabine telefônica mais adiante e “liguei entre cinco e seis” no estojo da fita cassete, e esperava do lado de fora todas as noites por uma ligação! Não havia dúvidas em minha mente que os dois ligariam. John Peel nos escreveu de volta uma bela carta dizendo que era muito bom e tudo mais, e Ivo nos ligou e disse: ‘Ei, quer vir e fazer um disco?’ Foi meio que … éramos meio ingênuos e nos encontrávamos imersos no que estávamos fazendo, tanto que quase esperávamos, você sabe … Nós meio que esperávamos. ‘Claro que queremos fazer um álbum! Estamos muito bem! ‘Você sabe … sem problemas.’ ”
Envolto a uma sonoridade gélida e igualmente obscura, o registro rendeu resenhas polarizadas. A Billboard o descreveu como “dark pós-punk”, enquanto a The Rough Guide to Rock foi mais a fundo escrevendo: “uma sinistra mistura de baixo pulsante, bateria TR808, guitarra cíclica e grandes arcos estridentes de feedback reverberante, sobre os quais Liz alternava pronunciamentos secos e frágeis com ginástica vocal de força total”.
Já do lado negativo, a Spin escreveu que o álbum “[soa] como Siouxsie and the Banshees com eco”, e nada diferente veio a The Arts Desk tecendo: “Embora eles tivessem sua própria voz, a dívida da estreia para com Siouxsie and the Banshees era aparente”.
Tempos depois Collin Wallace, que trabalhou como roadie do grupo, relembrou: “Garlands foi descartado no Reino Unido como outra banda estilo Siouxsie, e Elisabeth [Fraser] era uma grande fã de Siouxsie. Ela tinha enormes tatuagens da Siouxsie”.
Uma constante nos lançamentos da banda, bem como da 4AD eram as fantásticas capas. A arte foi concebida por Nigel Grierson (23 Envelope) quando ele estava na faculdade. Era parte de um projeto em seu curso de Design Gráfico para imagens alternativas do The Scream, álbum de estreia da Siouxie & the Banshees, mas a imagem acabou sendo posteriormente escolhida pelo Cocteau Twins e Ivo.
Criticados ou não, o fato é que, com sua estreia discográfica, a banda chegou ao top 5 das paradas independentes do Reino Unido, e ainda contou com apoio do lendário radialista John Peel, da BBC Radio 1.
A distribuição do álbum se restringiu basicamente ao Reino Unido, Países Baixos, Nova Zelândia e Japão. Somente nos anos seguintes a gravadora conseguiu ampliar o raio de licenciamento.
No Brasil Garlands chegou em 2003 através de uma edição remaster via carimbo Roadrunner Records, incluindo o Peel Sessions de janeiro de 1983 mais duas faixas gravadas para um single inédito.