Na busca por um caminho, estrela britânica chegava em sua segunda obra-prima em seu quarto registro
Por Luiz Athayde
Neste exato dia, na classe de 1971, um dos artistas mais caleidoscópicos da esfera – se é que podemos limitá-lo a tal – musical lançava mais uma obra-prima.
Naquele ano, o glam rock tomava forma e um já andrógino David Bowie, influenciado por suas conexões com Andy Warhol atacava com Hunky Dory. Naquele tempo, a voraz atividade da indústria fonográfica ainda exigia dois, até três discos, e o espaçamento temporal para a gravação era ainda menor, mesmo com artistas já consagrados.
Para sua “sorte”, Bowie também não parava no tempo. Entre junho e agosto daquele ano, o cantor e outras coisas se encontrava focado no processo técnico juntamente com o produtor Ken Scott – suas credenciais incluem: Beatles, Elton John, Lou Reed, Jeff Beck e muitos outros –, no Trident Studios em Londres, a fim de resultar no disco e soltar pelo lendário carimbo RCA Records.
Curiosamente, o primeiro single “Changes” / “Andy Warhol” (no lado B) só saiu no dia 7 de janeiro de 1972, e “Life on Mars?”, em junho de 1973.
Um dos pontos fortes conhecidos de Bowie também era a escalação dos músicos que iriam gravar/excursionar consigo. Para aquela feita, o baixista Trevor Bolder, substituindo Tony Visconti; o baterista Mick Woodmansey; e Rick Wakeman, que mal deu uma palinha nos teclados e foi para o Yes.
No âmbito propriamente musical, (as sempre) surrupiadas classudas e referências mil. A exemplo de sua ode ao já citado Warhol em um riff que lembra sem o menor medo a faixa “I’m Eighteen”, do então recém-lançado álbum Love it to Death, de Alice Cooper. Ou mesmo “Oh! You Pretty Things”, inspirada liricamente em Nietzsche, de fazer Elton John pensar se de fato não roubaram alguma canção de uma de suas gavetas.
Ainda mais explítica, “Song for Bob Dylan” presta óbvio tributo ao ‘traidor’ da música folk.
Nas paradas: 3º lugar no Reino Unido (1972), 33º na Noruega (1972) e 39 posição na Austrália (1972); discos de ouro e platina em janeiro de 1982 no Reino Unido. Quanto as críticas, melhor, só mais: “a peça mais inventiva de composição que apareceu gravada em um tempo considerável”, por Melody Maker. E David Bowie “em seu momento mais brilhante”, assinado pela New Musical Express.
Lançamento mundial em LP, Cassete e em Cartucho (ou 8-track tape) em 1971. No Brasil, somente em 1990 nos formatos Cassete e LP capa dupla com as faixas bônus: “Bombers”, “Supermen (Alternate Version)”, “Quicksand (Demo Version)” e “The Bewlay Brothers (Alternate Mix)”.
A importância da via seguida em Hunky Dory foi atestada pelo próprio artista, quando em 1999, ele comentou:
“Hunky Dory me deu uma onda fabulosa. Acho que isso me proporcionou, pela primeira vez na minha vida, um público real – quero dizer, as pessoas realmente me procuraram e disseram: ‘Bom álbum , boas canções.’ Isso não tinha acontecido comigo antes. Era como, ‘Ah, estou entendendo, estou encontrando meu caminho. Estou começando a comunicar o que quero fazer. Agora: o que é que quero fazer ? Sempre havia um golpe duplo lá.”
Ainda:
+ Algumas notas nos veículos especializados: 5 de 5 no AllMusic, 10 de 10 no Pitchfork, 5 de 5 na Spin e 3,5 de 4 no Chicago Tribune.