Primeiro álbum da famosa Trilogia de Berlim chegava metendo o pé no Krautrock
Por Luiz Athayde
Neste dia na classe de 1977 David Bowie iniciava sua conhecida Trilogia de Berlim com o álbum Low. Gravado nos estúdios Château d’Hérouville, França e Hansa Studio by the Wall, em Berlim, no ano de 1976, o registro teve produção assinada pelo próprio juntamente com Tony Visconti.
Além de marcar a nova fase musical do artista britânico e o primeiro da série de colaborações com Brian Eno, o disco faz referência ao estado emocional de Bowie, que andava para baixo (Low) em função do seu vício em cocaína.
Inclusive foi por esse mesmo motivo que o cantor se mudou para a dividida cidade alemã; se recuperar. Bowie morou em um apartamento modesto com Iggy Pop (que naturalmente participou do disco fazendo backing vocals em “What in the World”), localizado em Kreuzberg, um bairro de imigrantes, sobretudo turcos.
O resultado sônico foi uma peça em praticamente duas partes: no lado A, um rock mais direto e por vezes experimental, ou art rock, com letras voltadas para sua condição física e psicológica; no lado B, um mergulho nas suas sensações ao observar a Berlim Ocidental sobrevivendo na Cortina de Ferro.
E isso com um pano de fundo regado a música eletrônica e ambiente, especialidade de Eno, mas fruto da influência de ambos pelo cenário Krautrock, de nomes como Neu!, Faust, Tangerine Dream e afins.
As críticas ao álbum foram ponderadas. A Rolling Stone escreveu que “Bowie não tem o humor auto-confiante para retirar suas aspirações de vanguarda”, enquanto que o The Village Voice disse que “os sete fragmentos do primeiro lado são quase tão poderosos quanto as longas faixas de Station to Station”.
No âmbito dos licenciamentos, curiosamente o disco saiu no Brasil em vinil no mesmo ano de lançamento via RCA Victor. E só. Entre 1977 e 2018, várias reedições em CD, LP e cassete; e outras tantas piratas nos mesmos formatos.
De Joy Division a Human League, de Cabaret Voltaire a Arcade Fire, a estranheza de Low reverbera até os dias de hoje, e sem este disco, bem como parte da famosa trilogia, pouca gente surgida depois do punk existiria. Ou, não da forma que conhecemos.