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Wild Nothing – Hold

Por aqui, o prisma do pop reluz lado mais comercial da década de 80

Por Luiz Athayde

O Wild Nothing possui tantos anos de estrada (14, exatamente) que já é possível sentir uma nostalgia recente com alguns de seus álbuns. Gemini (2010) virou a chave de ignição enquanto Nocturne (2012) explodiu mentes. Inclusive muitas dessas sequer sabiam da palavra “indie” como um subgênero.

Até que em 2016 veio o bom Life of Pause. Porém, dois anos depois, Indigo marcou o ponto anto no que diz respeito a produção, composições, coesão. Disco pra frente, climático; pós-punk com alguns sabores power pop.

Depois, muitas águas correram no rio pessoal do músico e mentor Jack Tatum. Àquela altura ele já se encontrava de volta à sua cidade natal, Virginia, nos Estados Unidos. E o casamento + paternidade o afetaram de tal forma que a saída só poderia desembocar em música.

Jack Tatum (Foto: Ethan Hickerson)

Nem é preciso dizer que o prisma seguido por esses lados é o da década de 80. No entanto, os ares radiofônicos e quase pasteurizados tomaram a frente no novo álbum de título Hold. Saiu agorinha, via carimbo Captured Tracks.

A cerne das músicas, claro, são de Tatum, mas ele contou com gente de calibre da esfera, digamos (novamente), indie: Harriette Pilbeam, ou melhor, Hatchie; Tommy Davidson, do Beach Fossils; seu colaborador de anos, Jorge Elbrecht; e Molly Buch. Ah, Dana Bodourov, sua esposa, participa (faixa 4), bem como uma série de outros músicos.

Tatum também assina a produção. Embora Adrian Olsen, Geoff Swan e Robin Schmidt tenham trabalhado, respectivamente, na engenharia sonora, mixagem e masterização.

Jack dá a deixa de algumas referências ao falar sobre o responsável pela mix:

“Procurei o Geoff porque queria encontrar alguém que me pudesse ajudar a tornar este som tão grande quanto possível. Sempre me senti muito inspirado e atraído pelas grandes bandas dos anos 80. Peter Gabriel e Kate Bush são duas das minhas maiores influências de sempre porque claramente nunca se afastaram desse tipo de ambição.”

Dito isso, basta esperar boas melodias com pontes seguras e refrãos pegajosos, certo? Sim. Ao menos em boa parte do registro.

Na verdade, o primeiro single e clipe, “Headlights On”, é um verdadeiro pé na porta em forma de baggy/sophisti-pop nos melhores moldes feitos por Madonna e Debbie Gibson. A australiana Hatchie dá as caras justamente nessa canção.

Logo atrás vem a newwavezona “Basement El Dorado”, estilo meio/fim de tarde sobre as enormes palmeiras de Los Angeles. “The Bodybuilder”, por sua vez apela para sonoridades eletrônicas e uma batida para lá de conhecida (e não valorizada) no Brasil.

É o sophisti-pop abraçando a bossa nova com ares atmosféricos. Alguns incautos poderão associa-la com justiça a nomes como Tears For Fears e Johnny Hates Jazz. Cá entre nós, está tudo em casa.

Outro single tomou de assalto o universo oitentista boas semanas antes do disco sair. Trata-se de “Suburban Solutions”, uma sátira à encaixotada classe média norte-americana. Musicalmente, é uma das músicas mais contagiantes da discografia. Claro que ela também ganhou videoclipe.

Interlúdios instrumentais são recorrentes no Wild Nothing, mas, além de viajante, “Presidio”. Que nome…


Essa serviu de abre alas para “Dial Tone”, último aperitivo antes do play sair oficialmente. Quem sentia saudades daquela sonoridade clássica da banda vai cair nas graças de dessa com extrema facilidade. Spoiler: fortes ecos de Indigo (2018).

Os ventos agora sopram para um ‘The Cure encontra Wham!’ na subsequente “Histrion”. Acho que isso já explica tudo. Mas outra especialidade de Jack Tatum é de ambientar suas músicas, mesmo quando o mote é soar o mais pop possível. “Prima” vai por esse caminho, e só não chega ao espetacular por ser uma fórmula usada em todos os seus álbuns.

Já “Alex” corre pelas beiradas do shoegaze. Aqui Jack lança mão de uma sujeira aqui e ali para encher seu viés acústico. Bom, o tom é de balada mesmo.

Mais gratas ambiências são desenhadas em “Little Chaos”, entretanto, é apenas mais uma vinheta etérea. O fim é cinemático, radiofônico (no estilo das programações da Antena 1), com cara de 1989. Se o álbum fosse todo como “Pulling Down the Moon (Before You)” já valeria a pena, mas está valendo. E como.

Para quem ficou tanto tempo, era de se esperar um disco bombástico. Mas é necessário reconhecer que bater seu último álbum não é uma tarefa fácil.

Ainda assim, Hold te envolve quando você nem percebe e, a exemplo do que tudo o que o Wild Nothing fez até aqui, consegue proporcionar ótimas viagens.

Ouça o álbum na íntegra pelo Bandcamp ou a seguir, no Spotify:

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