Banda com uma vida discográfica breve, mas que deixou um registro que vale mais que uma mera menção honrosa
Por Luiz Athayde
Abre alas para uma das formações mais legais que passaram por esse plano sônico. Obviamente não me refiro a nenhuma escola de samba e tão pouco aos blocos pandêmicos que rolaram à vera neste último (e proibido?) carnaval, mas uma banda formada naquele esquema “guitarras, baixo, bateria e voz”: The Vintages.
E a audição se torna especial quando você descobre que sua geração data de 2000, classe que ainda se encontrava efervescente no subterrâneo capixaba do hardcore punk, que rendeu nomes como Mukeka di Rato, Dead Fish e Gritos de Ódio, para citar logo os mais importantes e também raivosos.
Mas até chegarem ao primeiro e único disco cheio, a banda de Vila Velha passou por altos, baixos e momentos de inércia, como praticamente todo mundo do underground.
Inicialmente tendo Bill (vocais), Peu (guitarra), Rodrigo (baixo) e Tibil (bateria), já chegaram preparando o portfólio abrindo para o Marky Ramone and The Intruders, em sua primeira e única visita ao Espírito Santo, em outubro de 2000. Mas a lista de nomes posteriormente se estenderia para gente do cenário nacional, como Zumbis do Espaço, Carbona e Forgotten Boys, e àquela altura, já contando com Marcelo vulgo “Durão” no comando dos vocais e também tocando guitarra.
Nesse ínterim, uma demo (“I’m Going To The Punk Rock Party”, de 2001), participação em coletâneas (“100 Tribos”, em 2002, “Moqueca Musical” e “Bubblegum Attack World”, ambas em 2006) e no saudoso festival Dia D.
Mas o registro que interessa e realmente fez a diferença, ao menos em seu curto período de existência, foi o álbum de estreia Get Out!, editado por carimbo independente em 2008.
Apesar do cenário local se encontrar razoavelmente fértil com o surgimento de bandas, o boom já havia passado, e com ele as casas de show, sobrando apenas a “residência” no (hoje extinto) Bar Entre Amigos 2, palco de apresentações incontáveis nomes do cenário nacional e internacional.
Ainda que tocassem em outros palcos dentro e fora da cidade natal, ali foi a casa dos caras, que por inúmeras vezes tocaram a maravilhosa “From My Heart”, a igualmente empolgante “Hey Hey Girl” e “My Dog is My Best Friend”, faixas essenciais no disco de 14 canções voltadas para o rock and roll básico, por vezes rápido e de forte orientação melódica; cortesia das influências sessentistas do grupo, bem como o punk rock e sua vertente bubblegum.
E precisa mais que isso? Não quando se tem uma cozinha tão coesa quanto essa. Da bateria única daquele perímetro à dupla de guitarristas, que faltavam Steve Vai, mas sobravam Johnny Ramone, ou seja, músicas pop sob o domínio das distorções, e claro, com o tempero fundamental das melodias entoadas pelas quatro cordas. Que o diga “Punk Rock Party”, “I Wanna Be A King”, “I Don’t Know How To Talk About Love” e até mesmo a versão redonda feita para “Outta Sight”, dos Riverdales.
Você precisa ouvir Get Out! por ser um disco que passa longe de querer inventar a roda. Pelo contrário, é o retrato de uma banda que só queria externar Ramones, Chuck Berry, Buddy Holy, The Queers, Beach Boys e, ainda assim, ter sido extremamente feliz em extrair composições tão cheias de vida quanto uma criança que acabou de ganhar um brinquedo.
The Vintages é um daqueles zilhões de casos de nomes que em seu assenso, resolve encerrar as atividades, mas ao menos deixou um dos melhores discos de punk rock lançados em Terra Brasilis, apesar de ser igualmente um dos mais obscuros… Até agora.
Get Info:
+ Após o término dos Vintages, cada um seguiu seu rumo: Marcelo é historiador, especialista em história da Alemanha Nazista e hoje vive na Polônia; Peu segue como produtor e pretende gravar algumas músicas para lança-las no formato digital em um futuro incerto. Já Tibil e Rodrigo vivem como eremitas; um se aposentou da bateria e o outro, com família formada, sequer usa a internet.
+ Todas as fotos promocionais da banda são assinadas por Daniela Camila, também esposa de Peu.
+ Sobre o Dia D: foi um festival que durou de 1999 a 2002, equivalente ao Abril Pro Rock, mas focado em atrações locais que tiveram projeção nacional e internacional, como Manimal, Siecrist, Pé do Lixo, Dead Fish, Mukeka di Rato, Casaca, Java Roots e bandas mais novas, naquele caso, o The Vintages.
Ouça Get Out! via Bandcamp ou abaixo no Spotify: