Trio italiano surpreende por inovar ante um subgênero outrora intolerante a possibilidades sônicas
Por Luiz Athayde
Um recente bombardeio (reforçado pelos algoritmos) de notícias sobre inteligência artificial, possibilidade de vida fora da Terra e outros eventos sísmicos me levaram a Progenie Terrestre Pura.
Minha busca por sons novos sempre foi constante, e nessa acabei encontrando seu álbum de estreia, U.M.A. como mais um fruto do acaso.
Suas iniciais significam ‘Uomini, Macchine, Anime’ (“Homens, Máquinas, Almas”) e, junto com a arte da capa, o disco dá a pista de ser algo eletrônico. Ou, no mínimo, futurista.
De fato, é isso e muito mais, dependendo da forma que o ouvinte receber as cinco longas composições presentes no disco.
Na verdade, elas são o desenvolvimento de uma jornada iniciada em Vêneto, na Itália, na classe de 2009. Algo como uma espécie de colisão mental entre os multi-instrumentistas Eon[0] e Nex[1]. E, desde sua gênese, o intuito foi combinar Black Metal com sonoridades eletrônicas e música ambiente, porém, de uma forma mais ampla.
O lado extremo é óbvio: vocais rasgados (aqui, parecendo como uma criatura interdimensional), riffs de induzir a hipnose e bateria na linha tênue entre o blastbeat e a batida do powerviolence – variante do hardcore.
As camadas experimentais, por sua vez, trazem uma aura de futuro distante graças ao flerte massivo com o IDM (Intelligent Dance Music); estilo calcado em arranjos complexos e imprevisíveis. Além de, não raramente, apresentar timbres excêntricos.
Nesse mapa sônico é possível conectar tanto nomes como …and Oceans, Arcturus e Blut Aus Nord quanto a entidade da estranheza, Björk.
A primeira demo dos caras surgiu por via independente em 2011. Ela serviu de passaporte para a Avantgarde Music carimbar os lançamentos subsequentes.
No entanto, nada como a estreia discográfica. Trata-se de algo que eu não diria ser inédito – no Youtube há constelações de álbuns e playlists de ótimas bandas sob o rótulo space/cosmic black metal –, mas com certeza, surpreendente.
Outro fator responsável por deixar a música do PTP tão envolvente são as passagens progressivas, até naturais nesse tipo de som.
Faz parte da imersão ser surpreendido (ainda bem) com algum asteroide no meio do caminho (partes cadenciadas) ou apenas pela velocidade aliada à certa psicodelia espacial.
Em suma, você precisa ouvir U.M.A. por não saber se está ouvindo um Pink Floyd pós-industrial ou se o Nocturnus (banda americana de sci-fi death metal) original saiu da criogenia.
Destaques:
“Progenie Terrestre Pura” – modo viagem ativo; trip estranha com uma mensagem fatal no desfecho da letra: “La vita è un respiro!” (“A vida é um sopro!”).
E é mesmo. “A gente, nasce, morre. O ser humano é um ser completamente abandonado…”, como atestou cirurgicamente (ironia trágica) o lendário arquiteto Oscar Niemeyer à BBC em 2001.
“La Terra Rossa di Marte” – David Gilmour encontra Jean-Michael Jarre. Experimental e intricada. Cativante do início ao fim. Deve ser as melodias. E são.
Ouça U.M.A. na íntegra no Bandcamp, ou a seguir: