Em 1973 os nipônicos proporcionaram uma verdadeira chuva de shurikens de LSD no Planeta Música
Por Luiz Athayde
Com a vigente onda de bandas flertando com a psicodelia nas mais inimagináveis esferas sônicas, fica impossível não querer mostrar gente que surgiu lá trás, quando o nosso sistema solar mal havia se formado. E apesar da lista não caber no gibi, a banda selecionada foi a que é considerada por muitos o primeiro nome do rock progressivo japonês, Far East Family Band.
Inicialmente como um projeto do vocalista, tecladista e flautista Fumio Miyashita usando o nome Far Out, a banda tomou forma como Far East em 1975 ao lançar dois álbuns: The Cave – Down to the Earth e Nipponjin; ambos experimentais, mas como se estivessem tentando um lugar no seu próprio Sol.
Foi em 1976 com a chegada de Parallel World que a coisa tomou forma, e não foi por acaso; em uma viagem para a Europa, Masanori Takahashi – hoje pode chamá-lo de Kitaro; sim, o seminal artista conhecido no cenário New Age teve sua carreira iniciada nesta banda, inclusive fazendo toda a diferença na sonoridade da mesma – conheceu ninguém menos que Klaus Schulze, importante figura da era inicial do Tangerine Dream.
Na banda ainda acompanhavam: Hirohito Fukushima (guitarrias e suas variantes), Akira Ito (piano, hammond, sintetizadores e variações afins), Akira Fukakusa (baixo) e Shizuo Takasaki (bateria, percussão), extraindo o que o Pink Floyd havia de melhor naquele período (jam… jam!) e mesclando, em 4 tabletes, ou melhor, shurikens lisérgicos para compor as viagens espaciais mostradas especialmente na mais longa e igualmente sensacional homônima faixa do disco, com 30 minutos extremamente aproveitados em ininterruptas camadas improvisadas e o mantra “free your mind” (liberte sua mente). E dividido em 6 partes: “Amanezcan”, “Origin”, “Zen”, “Reality”, “New Lights” e “In The Year 2000”, essa última revelando o quão interessante era a visão do futuro a partir dos anos 1970.
Mais do que dissertar sobre os por ondes e porquês deste terceiro álbum dos samurais do espaço/tempo, vale dar uma pausa nos “King Gizzard & The Lizzard Wizards” – um dos melhores nomes de nosso tempo, diga-se – e “Tame Impalas” da vida e redescobrir aqueles coletivos que não nasceram para dar certo no mainstream, ao menos naqueles anos.
Você precisa ouvir Parallel World por convergir com toda essa rapaziada que, por motivos variados, resolveram abraçar a psicodelia e o experimentalismo nesse fim de década, levando, quem diria, ao grande público – ou, ao menos em parte.
Parallel Info:
+ Antes que me esqueça, o encontro de Kitaro com Klaus Schulze foi além da influência; o alemão também assinou a mixagem de Parallel World,
+ A sensacional arte do álbum foi feita por Taiji Koyama.
+ A prensagem original de Parallel World data de 1976 no Japão em LP pelo carimbo MU Land, reprensagem em 1980 pelo mesmo selo, em CD pela Columbia e Alemanha e Reino Unido nos anos de 2007 e 2010; em Digipack CD e LP respectivamente.
+ A reedição britânica de 2010 é pirata. Selo: Phoenix Records.
Ouça Parallel World: