A geração dos anos 90 também possui fósseis que necessitam serem escavados
Por Luiz Athayde
Conheci essa banda totalmente ao acaso. Se bem que, quando na música, isso não acontece? Era algum momento da década passada, não, retrasada, um bom amigo gravou para mim um CDr com algumas raridades do rock gótico. Dentre elas, a banda britânica Eyes Of The Nightmare Jungle.
Mas não foi assim tão simples. Ouvi eles por muito tempo achando que se tratava do The Shadow Dance, da Finlândia – inclusive, hoje, comemorando 105 anos de independência. Pois é; no arquivo, que parecia ser o (também sensacional) EP Temple, de 1998, na verdade constava a faixa “Shadow Dance”, que por sinal era a minha predileta. Obviamente, após descobrir tempos depois que era uma das músicas do clássico perdido, obscuro e fantástico álbum de estreia, Fate, tudo fez sentido.
Ainda assim, e digo, em 2021, pouco se fala daquela extinta formação oriunda de Driffield, East Yorkshire. Pudera: em 1992 já tínhamos uma geração composta por nomes como Nosferatu, Rosetta Stone, Children on Stun – ex-banda do meu querido amigo Pete Finnemore, hoje liderando o Grooving in Green –, The Wake e London After Midnight. Isso só para citar alguns do eixo Inglaterra – Estados Unidos.
O quesito é popularidade, e por isso mesmo, ao ouvirmos faixas como “Where Was?”, que inclusive tem canja de Wayne Hussey (The Mission) nas guitarras e composição; e a raivosa e igualmente maravilhosa “Puppets”, a gente se pergunta do por que de não terem acontecido. Bom, eis a resposta mais provável vinda de más línguas: mais um clone de The Sisters of Mercy.
Entretanto, em vossa defesa eu preciso dizer que foi uma banda capitaneada por gente que tem um pé (e até dois) no metal. E de um modo geral, pessoas que são ou flertam com tal gênero, geralmente curtem mesmo é Andrew Eldritch e cia.
Explicando melhor, Eyes Of The Nightmare Jungle nasceu na classe de 1988 pelas mãos e ideias do vocalista Russell Webster, conhecido no cenário metálico pelos seus trabalhos no saudoso estúdio The Slaughterhouse – Carcass, Napalm Death, Bolt Thrower e outros nomes de peso gravaram discos lá, bem como Happy Mondays, The Mission e Cardiacs.
Já o baterista, era um desconhecido Colin Richardson, que logo menos teria um portfolio disputadíssimo, por ter produzido gente como Carcass (‘Heartwork’, apenas), Machine Head (‘Burn My Eyes’), Fear Factory (‘Demanufacture’) e muitos, muitos outros.
Apesar do currículo parcial de ambos, o grupo, que ainda contava com Guthrie Handley (teclados, vocais) e Pete Gilseman (guitarra, baixo) fez uma espécie de interpretação própria de Vision Thing, do Sisters, e além. Vide “Faith Healer”, que não só destoa por flertar descaradamente com o alternative dance, como, paradoxalmente, eles não estavam preocupados com o que viesse a seguir. Tanto que esta soa mais como um projeto de estúdio do que uma banda propriamente dita.
E é por esse motivo que você precisa ouvir Fate; uma pedrada gótica de viés rock and roll e com o único compromisso de entreter quem é viciado no pouco e o melhor que o Sisters trouxe ao mundo, e, em menor escala, The Mission dos dias mais inspirados. Clichezão mais que necessário para esquecer os problemas da realidade. Bom demais.
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