Pequena peça perdida em um mar de bandas etéreas, mas que vale muito a pena

Por Luiz Athayde

Chove em boa parte do Brasil e na região em que este que vos escreve mora, faz graciosos – e raros – 21ºC de sensação térmica equivalente, já que a corrente marítima vem com a mesma força que as guitarras da banda em questão: Alcian Blue.

Quase como esse “até breve” desta temperatura típica de inverno tupiniquim, o disco, ou melhor, EP de hoje possui caráter post mortem. Years Too Late é a tampa do caixão de uma banda que gerou poucos, mas significativos frutos na esfera alternativa voltada essencialmente para o shoegaze, noise rock, dreampop, pós-punk, ethereal e vai.

Sua origem data da classe de 1998 – isso diz muito da certa  aleatoriedade da cena norte-americana – em Washington DC, com Jake Reid (vocais, guitarra), Sam Chintha (guitarra), Matt Weltch (baixo) e Clark Stacy (bateria), mas logo menos essa formação iria mudar; após estrearem o disco cheio Slow Colorless Stare (2001) mais alguns singles e EPs, Stacy larga as baquetas para se juntar à Força Aérea dos Estados Unidos – que virada.

Por outro lado, a banda recruta a guitarrista – que posteriormente se tornou esposa de Jake – Kim Dodd e resolve seguir com uma bateria eletrônica, inclusive nas apresentações ao vivo.

Desde o início o mote era, por mais clichê que soe, “congelar” suas influências em seus registros; Slowdive, Joy Division, The Cure e  Cocteau Twins foram basicamente os termômetros sonoros no curto período de existência do grupo.

E Years Too Late é como se fosse uma síntese disso tudo. Embora se trate de um lançamento póstumo, suas composições são oriundas de composições antigas, algumas possivelmente de tempos embrionários.

Você precisa ouvir Years Too Late pelo simples fato de ser uma reverência natural dos grupos acima citados. E vale lembrar que, exceto pela turma de Robert Smith, que continua na ativa, mas há muitos anos não vê sombras de seus discos mais clássicos, eles já não existiam mais quando o Alcian Blue foi gerado.

Pena ser apenas um EP, porque o clima envolto de “A Fading Smile” a “Carousel” está para pelo menos uma semana de chuva, e não apenas uma triste despedida invernal.

Info Too Late:

+ A arte da capa não poderia deixar de fazer jus à música, certo? Quem assina a sintomática capa é o irmão de Kim Dodd (agora Reid), Justin Dodd, envolvido no subterrâneo essencialmente com projetos de metal extremo. Fotografia por Luke Gardner.

+ Years Too Late foi editado em 2007 no formato CDr pelo carimbo independente Safranin. A cópia mais barata no mercado de colecionadores gira em torno de 150 reais.

Ouça o álbum completo no Spotify: