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Type O Negative: neste dia, em 1993, “Bloody Kisses” era lançado

A fúria do hardcore abria espaço para um realce mais gótico e melodioso

Por Luiz Athayde

Mais uma vela para um dos álbuns mais inovadores de todos os tempos da esfera metálica. Após a estreia discográfica – e resquícios do Carnivore – Slow, Deep And Hard (1991) e o “ao vivo zoeiro” The Origin Of The Feces (Not Live At Brighton Beach) (1992), a banda nova-iorquina Type O Negative entrava em estúdio para assinar sua decolada via carimbo Roadrunner Records.

Bloody Kisses é o terceiro registro de estúdio do grupo liderado pelo vocalista e baixista Peter Steele, e o último com o batera Sal Abruscato.

Type O Negative em 1993 (Foto: Divulgação)

Em seus temas, doses cavalares de ironia e sarcasmo; fruto de experiências pessoais de Peter com, por exemplo, ex-namoradas. Mas ninguém passava batido de suas alfinetadas.

“Peter gostava de sacanear as pessoas”, comentou o ex-baterista à revista Metal Hammer. “Elas pensavam que ele estava falando sério quando estava brincando, e brincando quando estava falando sério”.

Musicalmente, o álbum foi gerado para ser a própria versão de Steele do gótico dentro do heavy metal, mas lançando mão de influências do shoegaze; bandas como Swans e My Bloody Valentine são citadas. Além de The Sisters of Mercy.

A produção leva a assinatura de Steele e o tecladista (e amigo de infancia) Josh Silver, o que foi perfeito para o cuidado com os arranjos. O guitarrista Kenny Hickey revela:

“Peter decidiu que a melodia estaria onde tinha de estar. O que era uma coisa difícil de fazer. Ele passou de berrar a escrever aquelas letras furiosas e raivosas para tentar cantar pela primeira vez em sua carreira”.

E deu certo. O primeiro single, “Black No.1 (Little Miss Scare-All)” é uma ‘homenagem’ a um affair gótico. Tocou incessantemente nas MTV’s mundo afora, incluindo o Fúria Metal no Brasil. Já a versão editada do segundo, “Christian Woman”, foi sucesso nas rádios estadunidenses, mesmo com Peter repetindo a frase “Jesus Christ looks like me” (Jesus Cristo se parece comigo) várias vezes.

Outro fator importante no impulsionamento do disco nas paradas – 60º na Alemanha e 166ª posição na Bilboard 200 – foi a febre pelo universo dos vampiros. Sal relembrou:

“Foi na época do filme Interview with the Vampire [Entrevista Com o Vampiro], e tudo explodiu depois disso. Eu lembro que tinha uma loja em East Village que começou a vender camisas rendadas, casacos de veludo e coisas assim. A banda logo começou a atrair muitas fãs por causa disso”.

Mas o efeito colateral foi além. Os shows ficaram maiores, mas sobretudo estranhos, ao ponto da banda ter, certa vez, tocado em um casa para fetichistas em Nova York. “Era um clube de BDSM [Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo] underground com todo aquele equipamento de tortura”, contou Sal.

Ele acrescenta:“Havia pessoas usando coleiras. Estávamos tipo: ‘O que estamos fazendo nessa porra?’ Éramos apenas quatro caras do Brooklyn, a gente não estava acostumado com aquele estilo de vida”.

De volta ao álbum em si, quando a raiva não era dominante, a dor tomava conta. A exemplo da versão para “Summer Breeze”, do duo folk Seals & Crofts, que aqui tomou ares entorpecentes, fruto de seu vício por álcool e cocaína, decorrentes da depressão.

Os dias de Carnivore (banda anterior de Peter) estavam mais distantes, mas, ainda assim, duas músicas soam como se não existissem linha do tempo: “Kill All the White People” e “We Hate Everyone”.

Motivo? Volta e meia a banda era chamada de racista. Daí, ao invés de explicações, eles resolveram responder ao modo “Negative”. Kenny comenta: “A certa altura, na Europa, fomos acusados de nazismo. Fala sério, Josh Silver é judeu.”

De qualquer maneira, isso não impediu de receberem notas altas e críticas positivas. O AllMusic carimbou 4,5 de 5 dizendo: “Embora soe como um funeral, a melodia etérea de Bloody Kisses e o estilo irônico dos anos 90 realmente deram nova vida ao gothic metal em declínio”.

Já a Rock Hard não perdeu tempo e deu nota 10/10. Isso sem mencionar elogios posteriores, como a Loudwire, o classificando como melhor álbum de 1993, e a Rolling Stone ranqueando Bloody Kisses no 53º lugar na sua lista de 100 melhores álbuns de heavy metal de todos os tempos.

Seu lançamento foi mundial em CD, LP e cassete, sendo o Brasil ganhando edições nos dois primeiros formatos pela Roadrunner, com direito a relançamentos oficiais (CD) em 1995, 2003 e 2012.   

Ainda:

+ Bloody Kisses contou com algumas participações, incluindo a Orquestra Filarmônica do Brooklyn; Paul Bento, que ficou a cargo da sitara a tambura; e amigos nos backing vocals, como Alan Robert e Mina Caputo, ambos do Life of Agony.

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