Ouça o primeiro single “Epistrophy” abaixo
Por Luiz Athayde
Vai vendo: Estados Unidos, ano de 1968. Tensões raciais beirando as mais altas temperaturas devido ao assassinato do pastor e ativista político Martin Luther King Jr, ocorrida em abril.
Em outubro, Danny Scher, um jovem fã de jazz tomou para si a missão de levar um de seus ídolos, Thelonious Monk para uma apresentação no dia 27, no colégio onde estudava, em Palo Alto, Califórnia.
Na época, Monk não se encontrava na melhor das situações financeiras, e o músico mais sua banda vinham de apresentações na área de São Francisco, bem no auge das flores e dos slogans hippies, então, quanto mais shows, melhor para sair do sufoco.
Mas quando Scher agendou a gig, seus colegas de escola simplesmente não acreditaram. Ninguém queria comprar os ingressos antecipados. A solução encontrada pelo promotor mirim foi dizer a todos os incrédulos que as entradas poderiam ser compradas na portaria, no dia do show.
No fatídico dia da apresentação, o quarteto foi visto no carro da família de Scher, e os estudantes, ambos de East Palo Alto e Palo Alto correram para garantir suas entradas.
Monk e sua falange, composta por Charlie Rouse (saxofone tenor), Larry Gales (baixo) e Ben Riley (bateria) fizeram a alegria dos presentes, destilando músicas, como “Ruby, My Dear”, “Don’t Blame Me” e “Blue Monk”.
Não bastasse isso, o zelador do colégio gravou o show com os melhores recursos disponíveis na época, ficando sob tutela de Scher, mais como uma lembrança de sua ignição como um empresário no ramo musical.
Foi então que, ao revisitar a gravação, Scher a levou até T.S. Monk, filho do pianista, e em parceria com o carimbo Impulse Records, a ideia de lançar o registro tomou forma, ganhando uma belíssima edição em vinil laranja para o dia 31 de julho, com pré-venda exclusiva na Vinyl Me Please.
Mais que um disco ao vivo, Palo Alto é um documento histórico, que envolve principalmente a igualdade racial – vale lembrar que, por ser majoritariamente branco, o colégio não estava imune ao caos racial – e a maestria de Monk, que se encontrava em um de seus picos nos palcos; além, claro, de se tratar de uma das figuras mais queridas da esfera do jazz.
Abaixo, o primeiro single e aperitivo do que foi aquele dia 27 de outubro de 1968. Ouça “Epistrophy”.