Novo album surpreende pela leveza nas composições e o extremo bom gosto para melodias pegajosas
Por Luiz Athayde
Existem bandas que possuem uma vasta discografia e seguem uma linha reta até o fim de sua trajetória, outras lançam mão de seletas ao lançarem álbuns e, por vezes, tão variada quanto perigosa.
Os britânicos do The Wonder Stuff seguem mais ou menos a segunda parte da cartilha e, ainda assim, desfrutam de certo status cult dentro do cenário alternativo.
Alternativo por quase sempre girarem em torno do chamado “indie”, não no sentido pejorativo, mas por atacarem de Celtic Rock, Power Pop, Jangle Pop e o que mais o rock puder se encaixar na esfera pop.
Dissidentes da cena de Black Country, a banda comandada pelo vocalista e guitarrista Miles Hunt viu o sucesso, sobreviveu a ondas passageiras e várias mudanças de formação, sendo hoje acompanhado por Erica Nocktalls (violino), Tim Sewell (baixo) Pete Howard (bateria), Malc Treece (guitarra) e Mark Gemini Thwaite, que dentre inúmeras e projetos, é essencialmente conhecido por seus trabalhos como guitarrista do The Mission e braço direito de Peter Murphy (Bauhaus) em sua carreira solo.
Em Better Being Lucky, mais novo registro da banda em três anos, sua marca é perceptível logo na faixa de abertura, “Feet to the Flames”. Ecos distantes de um The Mission foi permitido até por ter se tornado parte do DNA do músico, que assimiu em entrevista ao Class of Sounds.
“Para ser sincero, ainda sinto que sou membro do The Mission até hoje, apesar de não tocar com a banda há 10 anos. Meu estilo de tocar guitarra foi aprimorado ao trabalhar e gravar com Wayne Hussey. Aprendi muito com ele”, disse Thwaite.
“Lay Down Your Cards” traz aquele pop rock classic, digno de plays radiofônicos ou mesmo para um trilha em (pasme) novelas. “Don’t Anyone Dare Give a Damn” monstra o toque de Thwaite em meio aos violinos e Nocktalls em uma das mais belas faixas do álbum.
“No Thieves Among Us”, que também serviu de palinha pouco antes do lançamento do disco, mergulha fundo nos anos 1990, inclusive no que diz respeito ao bom rock de rádio (mais uma vez) ianque com refrão pegajoso. Essa faixa não foi música trabalho por acaso.
Bem no alvo, “Better Being Lucky” é Miles Hunt mais típico do que nunca: melodias pegajosas, arranjos sob medida, tiro certeiro. Merecia um videoclipe. “Bound” apela para o janglin’ direto para não perder o dinamismo do álbum.
Os violinos dão novamente o ar da graça em “It’s the Little Things…”, intercalando com um interessante riff de guitarra, crescendo a cada minuto. “When All of This is Over” traz consigo a inevitável lembrança de Wayne Hussey noventista. Aliás, essa faixa cairia muito bem no álbum Masque, de 1992; embora não seja da fase Thwaite, sua mão está ali.
A pisada no freio vem com “The Guy with the Gift” juntamente com sua porção celta; cortesia de seu approach acústico. “Let’s Not Pretend” talvez seja a composição mais atual, se assim podemos dizer. Seu andamento condiz perfeitamente com o status quo das composições comerciais dos dias de hoje.
Com maestria “Maps & Direction” encerra com a leveza de quem fez um dos melhores registros do The Wonder Stuff, assim como o da classe de 2019. Mais que isso; Better Being Lucky é o retrato de uma banda revigorada como nunca em sua história, graças a perspicácia de Hunt ao endossar seu talento natural para excelentes composições ao juntar – e se permitir uma parceria – com um time de primeira.
Sabe aqueles discos para se ouvir sem pular faixas? Better Being Lucky é facilmente um desses.
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