Segundo álbum da banda de Manchester veio ainda mais político que seu antecessor
Por Luiz Athayde
Os anos passam e alguns álbuns se mantém tão relevantes quanto na época em que foram lançados. No caso do segundo registro discográfico do The Smiths, tal relevância é ainda maior mais de 35 anos depois. Vide a quantidade imensurável de bandas influenciadas por essa falange… ou melhor, linha de frente do indie rock de Manchester.
Gravado no Amazon Studios, Liverpool e no Ridge Farm Studio, em Surrey, Meat Is Murder teve produção assinada pela própria banda, com assistência do engenheiro de som Stephen Street.
Embora o disco tenha chegado apenas um ano depois que o autointitulado álbum de estreia, o salto político foi para lá de considerável. A capa traz a imagem reproduzida quatro vezes de um soldado durante a guerra do Vietnã, extraída do documentário In the Year of the Pig (1968), de Emili Antonio. Nos dizeres, “Carne é Assassinato”. Originalmente o título seria “Faça Guerra não Amor”.
Ainda no âmbito lírico, mais violência; escolar (“The Headmaster Ritual”), doméstica (“Barbarism Begins at Home”) e nas feiras de diversão (“Rusholme Ruffians”). Mas a principal certamente seria – e é até hoje abordada pelo vocalista Morrissey, vegano radical – a dos animais, como explícita faixa título do álbum.
Aquele foi também o período em que Morrissey deu vazão à sua personalidade controversa, soltando declarações como: “Pode-se ter uma grande preocupação com o povo da Etiópia, mas outra coisa é infligir tortura diária ao povo da Inglaterra”, ao ser perguntado sobre o clássico festival beneficente Band Aid. Sem contar os constantes ataques à administração de Margaret Thatcher – algo bem comum entre bandas britânicas da época.
Dois singles saíram dali: a já citada “Barbarism…” e “That Joke Isn’t Funny Anymore”, lançados em abril e julho daquele ano. Ainda teve “How Soon is Now?”, música conhecida da compilação Hatful of Hollow, de 1984.
A receptividade também não foi nada, nada mal, com direito a boas notas em veículos como Sounds, The Village Voice e Q Magazine, girando entre 3.5/5 e 4/5. Já nas paradas: 29ª posição no Top 100 europeu, 27º na Suécia, 13º lugar na Nova Zelândia e primeiríssimo no Reino Unido. Na Billboard ianque o álbum figurou o número 110.
Como legado, o óbvio: posição número 295 nos 500 Grandes Álbuns de Todos os Tempos, pela Rolling Stone, em 2003 (296 na lista revisada em 2012) e presença no conhecido 1001 Álbuns que Você Precisa Ouvir Antes de Morrer. Cortesia também da cozinha avassaladora comandada por Johnny Marr. Inclusive, em entrevista publicada no livro Document and Eyewitness: An Intimate History of Rough Trade, ele disse: “Penso que isso é o rock quase que literalmente mudando a vida das pessoas – e, definitivamente, mudando a vida dos animais.”
Meat Is Murder teve lançamento mundial via carimbo clássico Rough Trade. No Brasil o registro só saiu em LP, e em 1986.