Pioneira feminina das pick ups abandonou as festas aos 67 anos de idade
Por Luiz Athayde
Ontem (26/08) Sonia Abreu, uma das pioneiras das pick ups e, certamente, a primeira mulher DJ do Brasil faleceu aos 67 anos em decorrência do ELA (esclerose lateral amiotrófica), rara doença degenerativa que afeta o sistema nervoso acarretando paralisia irreversível.
Infelizmente muitos só ficam sabendo dos feitos de uma pessoa importante, neste caso, no meio musical, quando falece. E quando se trata de Brasil, nem se fala; o esquecimento é eminente. Sonia Abreu nasceu na classe de 1951 (23 de dezembro) e desde cedo mostrava tino para cultura. Aos 13 anos ela já integrava uma banda de covers chamada Happiness, isso em 1964. Na mesma década ingressou no rádio de forma ativa, produzindo artistas e assinando compilações, sendo responsável inclusive pela projeção da cantora inglesa Dee D.Jackson graças ao seu dedo na produção da música Automatic Lover, lançada em 1977.
Pavimentou seu próprio caminho na radiofônico montando nos anos o Ondas Tropicais, rádio itinerante que passavas pelas ruas de São Paulo, tocando principalmente World Music. Dos formatos variados, estão desde Fusca até um barco.
Já se regozijando do status de pioneira das pick ups quando nos anos 1970 quando DJs eram chamados de sonoplastas – Sonia era carinhosamente chamada pelos amigos de “Soniaplasta” – transitou entre o grosso do underground alternativo e a pompa das boates frequentadas por pessoas da classe alta.
Em 2017 saiu sua biografia “Ondas Tropicais”, assinada pela jornalista Claudia Assef em parceria com Alexandre Melo. Claudia, que também era amiga da DJ disse à Folha de São Paulo:
“Sempre foi uma mulher que furou as bolhas e quebrou paradigmas. Nunca perguntou se uma mulher poderia discotecar, se poderia dirigir um soundsystem em cima de um ônibus ou de um barco. Ela simplesmente foi fazendo.”
Prova de sua força foi ter comandado as pick-ups mesmo quando já se encontrava bastante debilitada, se apresentando de cadeira de rodas na Galeria Olindo, centro de São Paulo em junho desse ano, antes de ser internada.
Sonia Abreu não viveu para a música. Já era algo com o qual ela havia nascido, logo, música era sua vida. Suas credenciais como DJ, produtora e radialista foram consequências de uma gana natural por vencer preconceitos ainda na década de 60, mas ainda tão evidentes nos dias de hoje. Entrou para a história já em vida, agora fica seu legado.