Líder do The Cure conta como perdas tiveram efeito no vindouro trabalho da banda
Por Luiz Athayde
Há tempos o The Cure não estava tão em evidência. Vindo de uma série de shows pelo circuito europeu e norte-americano, a inclusão no Rock And Roll Hall of Fame e exibição de show nos cinemas, a luz dos holofotes sobre a banda se intensificaram com o anúncio do mais novo álbum após 11 anos sem pisar no estúdio de forma criativa.
Em recente entrevista ao Los Angeles Times, Robert Smith falou um pouco sobre o sucessor de 413 Dream, e como sua própria escuridão influenciou no processo criativo do álbum.
“Às vezes, quando você está se sentindo infeliz e ouve música infeliz, isso conforta você, porque você sente que há alguém que entende. Você não está sozinho”, disse o líder do The Cure.
“A melhor parte de tocar ao vivo é ver como o público se tornou esquisito”, disse. “As pessoas que menos se mexem e com os cabelos grisalhos atrás e na frente as pessoas com glitter em seus rostos.”
Ao ser perguntado se ainda se identifica com os movimentos punk e pós-punk da época, Smith revela:
“Eu ainda sinto o mesmo tipo de frustrações que eu sentia quando estava nessa idade sobre como as coisas são feitas, não apenas no negócio da música, mas no mundo em geral. Os anos 80 foram particularmente terríveis, e ainda assim prosperamos porque representamos uma alternativa. A ganância corporativa tornou-se desenfreada nos anos 80. Eu ainda fico puto com esse tipo de coisa, o que é meio estranho porque a maioria das pessoas da minha idade com quem eu estava crescendo não parecem se importar mais.”
Sobre como se sente ao ser referência para artistas como Trent Reznor, que na cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame disse o quão importante foi o The Cure para ele quando adolescente, especialmente por ter crescido em uma cidade pequena como a Pensilvânia:
“Uma das coisas mais gratificantes é quando outro artista que você admira se vira e diz que gosta do que você faz. Quando Bowie me disse que gostava do que eu fazia. Eu poderia ter parado. Muitas vezes não é sobre a música. É sobre como conseguimos fazer o que fizemos da maneira que fizemos. Isso dá esperança às pessoas de que não existe apenas uma maneira de fazer as coisas. Eu tinha heróis como Bowie, Nick Drake e Alex Harvey. Eu queria ser distinto e individual. Então, se eu fizer parte desse continuum, fico muito feliz em estar.”
Em relação ao expediente de trabalho para o novo álbum, Smith comenta:
“Nós vamos voltar ao estúdio três dias depois de voltarmos de Pasadena para eu tentar terminar os vocais, o que é, como sempre, o que está atrasando o álbum. Eu continuo voltando e refazendo, o que é bobo. É mais ou menos isso que dá para dizer .”
E continua:
“Me ofereceram a chance de fazer a curadoria do Meltdown Festival [em Londres] e eu disse que sim. E então percebi que não estava escutando mais músicas novas. Então eu entrei de cabeça nisso e comecei a ouvir coisa nova de novo e conhecer a molecada que estava nessas bandas, e algo clicou dentro da minha cabeça: Eu quero fazer isso de novo. Foi um choque para mim, para ser honesto. Ninguém acreditou em mim até começarmos a gravar.”, disse Smith.
Mas foi sobre o que influenciou a composição do álbum onde Robert Smith foi mais revelador.
“Está muito no lado mais escuro do espectro. Perdi minha mãe, meu pai e meu irmão recentemente e, obviamente, isso teve um efeito em mim. Não é implacavelmente sobre desgraça e melancolia. Tem paisagens sonoras, como em ‘Disintegration’, suponho. Eu estava tentando criar uma grande paleta, um grande banho sonoro.”
Smith ainda revelou que o álbum pode se chamar “Live From The Moon” devido ao seu fascínio pelo 50º aniversário da chegada do homem à Lua.
Enquanto não o disco não sai, a banda tem presença garantida no Pasadena Daydream Festival no próximo dia 31, que também irá contar com nomes como Pixies, Deftones, Kaelan Mikla, Throwing Muses, Chelsea Wolfe e Mogwai. Do lado nacional, os fãs brasileiros poderão conferir amanhã (29) nos cinemas de algumas cidades – São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Recife, Fortaleza, Juiz de Fora e Belém – o filme The Cure – Anniversary 1978-2018 Live in Hyde Park London, longa dirigido por Tim Pope sobre o show comemorativo de 40 anos da banda.