Integrantes do supergrupo mais tosco do hardcore capixaba preparam série de vídeos tributo ao cassete da classe de 96
Por Luiz Athayde
“Pra quem não me conhece, meu nome é ponvéi!”
Essa deveria ser a frase definitiva quando o Espírito Santo entrou novamente para os holofotes sônicos. É claro que não me refiro a Roberto Carlos, Sergio Sampaio e tão pouco outros cachoeirenses que figuraram registros de mpb nos anos 60, 70 e 80.
O assunto aqui é hardcore; oriundo das cidades de Vitória e, especialmente, Vila Velha, dos anos 1990.
É sabido do público underground – e até mesmo de parte do mainstream – que, àquela altura, o Dead Fish (ex-Dead Fresh Fish) estava a todo vapor com suas demos, e prestes a lançar o primeiro álbum, Sirva-se, em 1997; assim como o Mukeka di Rato, na reta final da estreia discográfica Pasqualin na Terra do Xupa-Cabra, e o Gritos de Ódio, com sua recém-editada demo tape.
Mas, nem de longe, foi apenas isso. As temperaturas se encontravam tão altas no circuito local que a todo instante pipocavam bandas, vide Dr. Mobral, Kusta Pässää, Oposição, Full Effect, Kali-Yuga, Funny Felling… Pönvéi.
Surgido na classe de 1996 com os vocalistas, Sandro Juliati (Mukeka di Rato, Kusta Pässää) e Fabricio Biasutti (Gritos de Ódio), o guitarrista Thadeu Kaiser (Oposição, Kusta Pässää, Kali-Yuga, Nhaca), Henrique (mais conhecido como “Saci”, do Funny Felling) no baixo e Adriano Elisei (Gritos de Ódio, Funny Felling) na bateria, essa espécie de supergrupo tosco do cenário capixaba editou, naquele mesmo ano, apenas uma autointitulada fita demo de 8 faixas.
Mesma fitinha do qual abre com “pra quem não me conhece…”, uma homenagem que saiu pela culatra, não somente à figura que berrou a frase, como às crianças abandonadas Brasil afora.
O tempo passou e cada um tomou os rumos que a vida disponibilizou. Bom, alguns foram bem longe; Thadeu reside em Portugal, enquanto que Adriano se encontra na Irlanda.
Mas foi essa mesma distância – movida, claro pela pandemia do Covid-19 – que reuniu a banda, 24 anos depois para prestarem um tributo àqueles tempos de efervescência musical, mas de um jeito diferente: à moda de viola. Punk.
Com exceção de Saci, o grupo pegou microfones e violões e fizeram uma versão para “Lágrimas da Terra”, uma das faixas que, mesmo após tantos anos, se alinha ao zeitgeist contemporâneo.
“O que motivou foi a vontade do Fabricio e do Adriano de montarem uma banda, e também de reencontrar os amigos”, explicou Juliati.
“E também porque a gente acha que as músicas do Pönvéi estão bem atuais. O número de trabalhadores rurais assassinados aumentou na última década, e nos últimos cinco anos aumentou mais ainda; o genocídio indígena, da população negra… E ‘Lágrimas da Terra’ fala especificamente sobre o assassinato de camponeses, daí a gente falou: ‘Ah bicho, vamo fazer um barulho aí’.”
Confira a barulheira de viola abaixo.
Não, não parou por aí. “Lágrimas da Terra” é apenas o primeiro de uma série de vídeos que os punks, hoje de meia-idade pretendem lançar, embora não se trate de um retorno propriamente dito da banda. Sandro comentou.
“É possível que a gente lance mais uns dois ou três vídeos de alguma música [do Pönvéi], e futuramente pense uma ideia da galera continuar de algum jeito, com um projeto digital ou onde for possível.
Como cada um está em um lugar, é difícil que esse grupo se encontre fisicamente. Eu e Fabricio estamos perto, mas têm dois caras na Europa. Vamos ver o que vai rolar… Vamos ver o que vai ser desse mundo, o que vai ser da gente… Tomara que a gente consiga sobreviver a isso tudo aí.”
Em paralelo ao Pönvéi, Sandro segue promovendo o autointitulado álbum de estreia de sua banda pós-punk/alternativa Volapuque, lançado por carimbo independente; Biasutti, que foi um dos principais agitadores culturais daquele período – a extinta casa de shows Gueto, na Barra do Jucu, foi o epicentro do hardcore no estado, também recebendo bandas de várias partes do Brasil e do exterior – integra o duo dub Nativix. Já Adriano é ator e tem mirado sua carreira para o cinema.