Músico suíço havia largado a música para se dedicar somente à carreira médica
Por Luiz Athayde
Ele bem que tentou parar, mas felizmente não conseguiu. Patrick Fitzgerald, voz da seminal banda de shoegaze/jangle pop, Kitchens of Distinction, acabou de anunciar mais um item para sua prateleira sônica após 5 anos, Convalescence.
Agendado para fevereiro de 2025, este será seu quinto álbum sob a alcunha Stephen Hero. A chancela é do selo independente Last Night From Glasgow, inicialmente em CD – as 50 primeiras cópias virão autografadas. O formato vinil também está nos planos, porém, é preciso pelo menos cem compras pela pré-venda, disponível neste link.
Bom, mas o que motivou o ex-vocalista/baixista do KoD a desistir de se aposentar da música? Segundo o próprio, o terrível déjà vu durante a recente pandemia de coronavírus.
“Na escuridão da COVID-19, fui levado de volta à memória da pandemia de AIDS dos anos 1980/90 que, em comparação, era invisível e sem importância para os governos e para a maioria das pessoas”, diz Fitzgerald, que desde 2007 atua como médico especialista na área paliativa.
Ele continua: “Naquela época, não havia restrições ou confinamentos; em vez disso, havia preconceito e a ameaça de ilhas de prisão. Por ter sido considerado de alto risco em ambas as situações e, estranhamente, não ter morrido em nenhuma delas, me senti como se tivesse enganado as probabilidades. E eu precisava me deitar.
Entre divagações envolvendo algumas de suas principais influências, como Marcel Proust e Truman Capote, o músico suíço acrescenta:
“Na cama, os sonhos e as lembranças se misturavam. Os nomes de vírus odiosos, os nomes dos mortos da década de 1980 (e se eles não tivessem morrido? O que aconteceria?), o surgimento de um minotauro idoso, cego por anos em seu labirinto, trazido para pastar nos campos e refletir. Por que diabos todas aquelas doenças e mortes? No entanto, de alguma forma, nós vivemos. É uma tarefa e tanto.”
Com isso, Patrick revela que “no estúdio, os sons antigos e altos de guitarra distorcida, delays de pingue-pongue e reverberações surradas me chamaram de volta.”
O primeiro single deste registro (que mal esperamos para ouvir) sairá logo menos, de acordo com a Last Night. No entanto, o herói Stephen soltou um spoiler da sonoridade.
“As músicas de piano mudaram do acústico barroco do meu disco anterior, Deciduous Eccentric (2019), para trinta anos atrás, dos dias de Kitchens of Distinction. Rock serrilhado, polvilhado sob um olhar levemente coberto e sufocado pela voz azeda de sempre em busca de respostas, apenas para encontrar fantasmas, salas de mapas, aparelhos de respiração, exorcistas.”
A gênese de Patrick Fitzgerald nos holofotes da música começou em Londres, na classe de 1986, quando formou o Kitchens of Distinction. O guitarrista Julian Swales e o baterista Dan Goodwyn completaram a formação que editou cinco álbuns de estúdio de 1989 a 2013, incluindo os essenciais, Strange Free World (1991) – devidamente indicado na coluna “você precisa ouvir” – e The Death of Cool (1992).
Durante muitos anos, Patrick conciliou suas duas carreiras – música e medicina –, tendo lançado registros inclusive com outros projetos. Todos na esfera alternativa; Fruit, Lost Girls, The April Seven e Oskar’s Drum.
Todavia, a área médica também rendeu cultura. Em 2017, ele lançou um livro em coautoria com Sara Rayner, intitulado Making Peace with the End of Life: A clear and comforting guide to help you live well to the last (‘Fazendo as pazes com o fim da vida: Um guia claro e reconfortante para ajudá-lo a viver bem até o último momento’)