“Bonfire of Teenagers” fala do atentado suicida no show de Ariana Grande em 2017, que deixou 22 mortos em Manchester
Por Luiz Athayde
No pandêmico ano de 2021, Morrissey anunciou o lançamento de Bonfire of Teenagers pela Capitol Records. No entanto, as coisas desandaram e em 2023, o artista tinha certeza que a gravadora estava se recusando a editar o sucessor de I Am Not a Dog on a Chain (2020), chegando a afirmar que o CEO queria destruir sua carreira.
Agora, a novela ganhou um novo capítulo. Em entrevista concedida ao The Telegraph publicada ontem (9), Moz afirma que o motivo do boicote está na “polêmica” faixa-título. “Bonfire of Teenagers” trata do ataque suicida ocorrido em um show de Ariana Grande, no Manchester Arena em 2017. O atentado deixou 22 mortos e 59 feridos, incluindo crianças e adolescentes.
“Polêmico significa inteligente, não é?”, disse Morrissey à publicação por email (via Stereogum). “Ainda estamos nas garras da cultura do cancelamento, ela está em todo lugar que você olha. Naturalmente, sou um dos primeiros a ser amordaçado, já que toda a minha vida se baseou na liberdade de expressão”.
Ele continua: “Não, eu não removeria a música-título porque não abandonaria as crianças assassinadas de Manchester. Seus espíritos clamam todos os dias por lembrança e reconhecimento.”
A letra fala sobre um fã sendo “vaporizado”, com Moz repetindo o refrão “go easy on the killer” (“não se preocupe com o assassino”). Curiosamente, ela também faz referência ao Oasis no trecho a seguir:
“And the morons sing and sway: ‘Don’t Look Back In Anger’ / I can assure you I will look back in anger ‘til the day I die”.
(“E os idiotas cantam e balançam: ‘Não olhe para trás com raiva’ / Posso lhe garantir que olharei para trás com raiva até o dia em que eu morrer”.)
Ainda sobre o hit da banda dos irmãos Gallagher, ele disse ao The Telegraph:
“O atentado à bomba na Manchester Arena foi o nosso 11 de setembro. Mas, neste nosso triste país, entender o significado completo do ataque é ser culpado, e é por isso que o comando ‘não olhe para trás com raiva’ sempre me pareceu irrisório e nada relacionado à harmonia social”.
E segue atirando como na capa do álbum You Are the Quarry, de 2004:
“Quando você se poda ou se autocensura, os idiotas vencem. Não há mais mídia artística na Inglaterra, portanto não há ninguém com quem eu possa conversar sobre isso. O fato é que os artistas genuínos da Inglaterra estão sendo mantidos reféns por pessoas que se opõem a qualquer tipo de opinião alternativa. Os maiores monstros são a equipe #BeKind” – um movimento de mídia social que promove a empatia – ‘que esmagará sua cara se você discordar deles’.”
Contudo, isso não significa que a recusa do disco também foi musical. Pelo contrário. Além de ter dito que é “o melhor álbum da minha vida”, Moz revelou:
“Todas as grandes gravadoras de Londres recusaram ‘Bonfire Of Teenagers’ e, ao mesmo tempo, admitiram que é uma obra-prima. E, embora não haja nada de insultuoso ou antagônico na faixa-título, os chefes das gravadoras dizem que estão preocupados que o ‘The Guardian’ torne suas vidas um inferno se eles apoiarem qualquer conscientização social”.
Não é de hoje que e nem são pequenas as rusgas entre o artista britânico e a imprensa e o público. Porém, elas vinham se intensificando pelo menos desde 2010, quando declarou apoio ao For Britain, grupo de extrema direita anti-Islã.
“Tenho acompanhado um novo partido chamado For Britain, liderado por Anne Marie Waters. É a primeira vez na minha vida que vou votar em um partido político. Finalmente tenho esperança. Acho que a mudança constante no Partido Conservador é inútil. A Grã-Bretanha não recebeu nenhum apoio da mídia e foi dispensada com a habitual acusação infantil de “racismo”. Eu não acho que a palavra “racista” tenha algum significado, além de ‘você não concorda comigo, então você é racista’. As pessoas podem ser estúpidas”, disse em entrevista ao Tremr na época.
O registro tem produção assinada por Andrew Watt (Ozzy Osbourne, Rolling Stones, Justin Bieber, Lady Gaga, etc), que é descrito por Morrissey como “um gênio intocável da produção musical”.
Entre os convidados especiais estão Iggy Pop e Flea e Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers. Inicialmente, a lista incluía Miley Cyrus, mas ela pediu que sua participação fosse removida.