Entressafra do Depeche Mode proporcionando mais um registro experimental e igualmente surpreendente de seu líder
Por Luiz Athayde
E lá se vão 4 anos desde o lançamento do consistente Spirit, último álbum do Depeche Mode, e mais ainda do voo solo do cantor, compositor e sobretudo líder Martin L. Gore, com intitulado apenas MG (além do EP homônimo), de 2015.
Mas é justamente na entressafra de sua banda principal que o músico britânico de Essex aproveita para expurgar seu lado mais experimental, e claro, eletrônico. The Third Chimpanzee é a sua marca instrumental deixada neste pandêmico ano de 2021, diretamente influenciada pelo biólogo evolucionista e escritor ianque Jared Diamond.
E tudo começou após Martin conferir o resultado da primeira faixa gravada e a que abre o registro, dizendo que “parecia primata”, daí a ideia de batizá-la de “Howler”. Tanto que ganhou videoclipe mostrando um festin símio com muitas bananas. O teor é um IDM pós-apocalítico, de conexões não intencionais com o Future Sound of London.
“Mandrill”, o primeiro single a ser divulgado, chega como a composição mais pesada de Gore, como se em seu inconsciente houvesse uma insurreição comandada por Richard H. Kirk (Cabaret Voltaire) e Rhys Fulber (Front Line Assembly).
Mantendo sempre uma proximidade com a veia mais dark, “Capuchin” traz uma força pulsante em seu andamento, fazendo com que essa faixa seja uma “presença” no disco. Já em “Vervet”, suas mutações remetem a velha escola da música eletrônica/ambient, com nuances mais viajantes contrastadas com um ritmo muito envolvente. É também a mais longa do play, passando dos 8 minutos.
Como o título diz “Howler’s End” apresenta o final do curta, ou melhor, da visão do mundo através de um dos terceiros chimpanzés.
The Third Chimpanzee é basicamente Martin parando para “brincar” na sua Disneylândia de sintetizadores enquanto não junta com Dave Gahan e Andrew Fletcher para dar cabo a mais um capítulo para seus devotos fãs de “Enjoy The Silence” e afins, mas é, especialmente, seu espírito criativo dizendo que nem só de feijão com arroz vive a música eletrônica.
E para adictos em sons estranhos, caminhos tortuosos e as inúmeras possibilidades que este gênero proporciona, o novo trabalho do cara é um prato cheio, que só não ganhou o selo “peão” por se tratar de um EP.
Ouça completo via Spotify.