Agora, a ordem é viajar pelo universo da música eletrônica espacial
Por Luiz Athayde
Na boa, o que dá para dizer de um disco do King Gizzard & The Lizard Wizard a essa altura do campeonato? Não muito, é verdade.
O novo registro chegou à classe de 2023 da mesma forma que seu antecessor: tão surpreendente que já não causa mais nenhuma surpresa.
A diferença básica está na abordagem sônica. PetroDragonic Apocalypse, também desse ano (que novidade), veio levantando a bandeira da velha escola do heavy metal, enquanto o novíssimo The Silver Cord salta para a esfera eletrônica. Espacial. Psicodélica.
Sei que parece uma crítica, mas não. Anos-luz disso. Na verdade, é exatamente esse o fator instigante dessa banda formada na sempre fértil cidade de Melbourne, na Austrália, em 2010.
E o mais legal é que esse pacote também inclui doses cavalares de excentricidade. O que também é previsível, dada a quantidade de mentes criativas presentes na banda. Ainda que o bonde seja puxado pelo multi-instrumentista, produtor, compositor e vocalista Stu Mackenzie.
Inclusive o processo criativo foi registrado em janeiro, durante os ensaios do grupo. Merri Creek ficou com os créditos da gravação ao lado dos engenheiros de som, Nico Wilson e Laura Hancock.
Já os overdubs, a perderem de vista, foram gravados entre março e julho em localidades distintas, como salas, hotéis e aeroportos de vários países do Hemisfério Norte. A lista de synths e outros equipamentos sequer caberiam aqui.
Ok, mas e as músicas? Na duração, eles seguem o modus operandi (um dos poucos), com exatos 28 minutos no lado A. Sim, no lado B constam as mesmas 7 faixas, mas como Extended Mix.
Quem conhece o trabalho do King Gizzard, sabe que absolutamente tudo o que eles extraem de outras esferas musicais, é feito de um jeito bem singular. Isso vai desde timbres à métrica usada para compor. De imediato, “Theia” aquece para o que vem adiante: lisergia espacial e nostálgica. Algo a ver com nuances remetidas ao britpop.
Ela é engatada pela faixa-título, que em dois tempos te leva a uma outra dimensão. Trip realmente das boas, de deixar Tangerine Dream com orgulho. “Set” aponta para as pistas de dança britânicas de meados dos anos 90. Tipo synthpop abraça a neopsicodelia.
Em “Chang’e”, os australianos continuam lá no alto com uma pegada flutuante inclusive pelos arranjos vocais. Quando chega “Gilgamesh” nem dá tempo de imaginar algum conceito por trás, já que seu título vem da mitologia suméria. Se as palavras progressivo e eletrônico são possíveis em uma mesma frase, é nessa faixa, de fato.
Pois é, já estamos quase chegando ao fim com “Swan Song”; rave pronta, regada a um techno para lá de corrosivo. “Extinction” faz o papel de fechar a porta das versões, digamos, originais com mais uma tradição: tentar destoar do restante do disco. Entretanto, de um modo ou de outro a veia árabe sempre está circundando suas canções, como se fosse um vício.
As versões remixadas dispensam comentários. Elas servem nada além do que estender a viagem de ácid… sonora do ouvinte através de batidas ainda mais saturadas, pulsantes e por vezes confusas. O destaque fica com “Chang’e (Extended Mix)” ao mesclar melhor os mundos do, vamos dizer assim: “sóbrio” e “alterado”.
No mais, deleite certo para fãs da banda e também de sons eletrônicos/psicodélicos. Em uma escala menor – até porque eu indicaria outros álbuns –, é uma boa pedida para quem deseja se iniciar em King Gizzard & The Lizard Wizard por vias sintetizadas.
Ouça The Silver Cord na íntegra pelo Bandcamp, ou a seguir, via Spotify:
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