Continuação natural de ‘K.G.’ chega com poucas surpresas, mas igualmente envolventes
Por Luiz Athayde
Falar ou escrever sobre um novo trabalho da rapaziada Aussie do King Gizzard & The Lizard Wizard, mesmo 11 anos depois é: “O quê? Como assim?”
Pois é, e lá vamos nós conferindo mais um item na já extensa discografia da banda formada em Melbourne, ali em 2010. Há poucos meses, ou seja, em novembro de 2020, quando lançaram K.G., estava meio na cara que voltariam muito em breve e, no mínimo, com algo relacionado, ainda que eles sejam conhecidos como a maior caixa de surpresas da Oceania.
O registro anterior veio recheado de influências árabes, nuances acústicas e o de praxe caminho psicodélico também entoado pela voz do guitarrista, vocalista, compositor e carismático líder Stu Mackenzie.
Em L.W. a coisa não veio tão diferente, mas longe, bem longe de soar como mais do mesmo. Na verdade o novo álbum é ainda mais intricado, com andamentos fora do comum – ao menos em relação aos últimos registros –, mas você sabe quem está tocando. A terceira faixa “Pleura” é um ótimo exemplo disso; os tempos e contratempos existem, mas Stu arrisca novas possibilidades vocais – graves.
Outra característica marcante é o peso. Tudo bem que até o momento, nesse quesito, nada que foi lançado até aqui por parte deles supera Infest the Rat’s Nest (2019), mas me refiro a adicionar doses homeopáticas de graves e grooves, um tempero certeiro na hora de deixar a sonoridade mais encorpada. E o melhor exemplo é a cativante “Supreme Ascendancy”.
E por falar no Oriente, “Static Electricity” é a que talvez mais referende estes novos caminhos da banda. Em um flerte com Mythos – obscura banda progressiva alemã – na sua intro, a faixa segue deserto adentro, como uma viagem sem volta pelas “Mil e Uma Noites”, dado o seu poder de envolver logo nos primeiros minutos. Um dos pontos altos, fácil.
Quase chegando no desfecho, surge uma tal “Ataraxia” e aquele: “opa, mais guitarras”, em um formato que se aproxima do rock mais básico em alguns momentos, ainda que o mote aqui seja os tempos quebrados, como é de lei em praticamente tudo que eles lançam.
A grande surpresa vem mesmo é no fim; “K.G.L.W.” é um corrosivo sludge de pouco mais de 8 minutos, como se o Eyehategod fosse responsável por um enorme derramamento de produtos químicos na costa australiana.
O som exala certa morbidez em sua arrastada saga – com passagens fantásticas, diga-se –, mas também carrega toda uma aura mística , até para fazer jus ao nome do grupo. Se trata de um belíssimo fechamento, que daria inclusive um álbum inteiro nesse formato, mas como se trata de uma banda sem muitas regras na hora de montar o setlist de seus discos, qualquer choro é mera perda de tempo.
Um dos trunfos de L.W. não é apenas mostrar estes reis e feiticeiros lagartos como uma fonte interminável de sons, mas, especialmente, como uma formação capaz se reinventar a cada composição; seja em menor ou maior escala; além de poderem estufar os peitos e dizerem ao mundo que continuam sendo um dos nomes mais versáteis da atualidade.
Ouça L.W. no Spotify.