Lendas do pós-punk se juntaram em 1993, mas os frutos daquelas sessões nunca haviam sido lançadas
Por Luiz Athayde
O que esperar de um lançamento proveniente de um supergrupo? Ou, neste caso, um mega trio de peso na esfera conhecida como pós-punk? Que atire várias pedras quem não esboça um mínimo de expectativa.
Em especial quando se trata de músicos que em pouco ou nada erraram em suas vastas discografias. Sim, aqui temos Jaz Coleman e Geordie Walker, vocalista e multi-instrumentistas a serviço da instituição Killing Joke, e Peter Hook, responsável pelas linhas de baixo mais marcantes do cenário alternativo, graças às suas contribuições na cozinha do Joy Division e do New Order.
K÷93 é o nome do projeto que chancelou sessões feitas em 1993 na entressafra do duo e no canto do cisne (bom, o primeiro) da banda de Hook, rendendo, ao menos pelo conhecimento do público, 3 faixas que agora configuram um EP com direito a um simpático vinil 10 polegadas e outro test pressing; além do formato digital.
A primeira música a sair da poeira é a pesada “Remembrance Day”, e não me refiro à sonoridade, que mesmo de mote etéreo, envolve pela dramaticidade. Pudera: o videoclipe traz imagens de vítimas da Covid-19, incluindo o tio de Coleman, que se foi dezembro, em pleno Natal.
Logo no início, sua sonoridade pode confundir alguns metaleiros desavisados – neste caso, quase um pleonasmo – por inconscientemente remeter aos dias mais sombrios (e sem guitarras) da brigada inglesa do Doom Metal My Dying Bride; “Black God” e “Silent Dance” são as conexões mais próximas.
Na sequência a faixa que dá as caras é “Giving up the Ghost”. Dali o ouvinte percebe o lado Hook da coisa. Basta voltar no começo dos anos 80; “Killing Joke meets Movement” (Killing Joje encontra Movement), que também pode ser traduzido como se Coleman tivesse feito uma participação meteórica no disco de estreia do New Order.
“Scrying” é a mais destoante, embora ela soe como um momento mais leve em Extremities, Dirt and Various Repressed Emotions, álbum de 1990 da banda de Coleman/Geordie. Seu trocadilho – “S” de “scream” (gritar) e “crying” (chorando) – é perfeito por também trazer duas marcas profundas na formação londrina: as vozes roucas de Jaz e suas influências clássicas.
Mesmo as quatro cordas de Peter, que aqui se monstram um tanto coadjuvantes, brilham quando chegam nas notas mais altas – que por sinal, é uma de suas principais características.
Não sabemos se teremos que esperar mais 28 anos para ouvir três ou mais músicas desse quilate. Mas enquanto não é o caso, vale muito a pena se deleitar com esse projeto de ponta e além, feito por estes progenitores da onda que veio depois do punk.
Ouça K÷93 no Spotify.