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Imagem do enredo da tese de doutorado de Harold Craft de 1970 / A então estudante de astrofísica Jocelyn Bell Burnell, descobridora do Pulsar CP 1919 (Créditos: Reprodução/Alamy)

Joy Division: Qual a verdadeira origem da capa de Unknown Pleasures?

Fizemos um raio x da arte do lendário álbum da falange de Manchester, que hoje completa 45 anos

Por Luiz Athayde

Eis mais um ano na história do icônico álbum de estreia da cria de Manchester, Inglaterra, sob a alcunha Joy Division. Sua capa apresenta um estranho padrão branco sobre fundo preto e já apareceu em milhões de camisetas desde 1979. Mas de onde vem isso? E o que realmente é?

Joy Division – Unknown Plearures, 1979

Unknown Pleasures é, talvez, a imagem mais duradoura do pós-punk. Se você tem uma camisa, de certa forma é uma maneira de ter o álbum.

Nos dias anteriores à internet, as informações sobre a banda eram escassas: o nome do grupo não aparecia no álbum e não havia sequer fotos dos músicos na contracapa do disco. E por isso mesmo, um ar de mistério crescia em torno da capa de Unknown Pleasures.

O que a enigmática forma de onda simbolizava? Era um batimento cardíaco? Uma análise matemática de algo sinistro? O grito cósmico de uma estrela moribunda? Ou foi apenas a onda sonora do Pollard Syndrum (bateria eletrônica) da faixa “Insight”?  

Em termos simples, trata-se de uma “plotagem empilhada” das emissões de rádio de um pulsar, uma “estrela de nêutrons rotativa”.

Originalmente chamado CP 1919, o pulsar foi descoberto em novembro de 1967 pela estudante Jocelyn Bell Burnell, sob supervisão de Antony Hewish na Universidade de Cambridge. Sua biografia é tão extensa que merecia considerações à parte, especialmente porque elas envolvem ausência de créditos.

Jocelyn Bell Burnell (Foto: AP Archives / Alamy)
Cópia do gráfico impresso do pulsar PSR B1919+21 (CP 1919) e sua descobridora, Jocelyn Bell Burnell. (Foto: Reprodução)

Crédito: Harold D. Craft, Jr.; Fonte: “The Nature of Pulsars”, de Jeremiah P. Ostriker, em Scientific American, Vol. 224; No. 1; janeiro de 1971, modificado de “Radio Observations of the Pulse Profiles and Dispersion Measures of Twelve Pulsars”, de Harold D. Craft, Jr.; setembro de 1970.

Na época, Craft trabalhava no Observatório de Rádio de Arecibo, em Porto Rico, e lançou mão de uma nova tecnologia de computador para atribuir as ondas de rádio do CP 1919. A exemplo do que ele disse mais tarde a Jen Christiansen, editora sênior de gráficos da Scientific American.

“Escrevi um programa que, em vez de ter [cada linha] alinhada verticalmente, eu as inclinava em um leve ângulo para que parecesse que você estava olhando para uma encosta – o que era esteticamente agradável”.

Foi aqui que Bernard Sumner – que trabalhava como designer gráfico nos estúdios de animação Cosgrove Hall em Chorlton, Manchester – a viu. Ele disse a Maxim em 2015:

“No meu horário de almoço, eu ia à Biblioteca Central de Manchester e pegava um sanduíche no café.

Eles tinham uma boa seção de arte e uma boa seção de ciências. Eu lia os livros em busca de inspiração. Uma das imagens que eu encontrei foi a de Unknown Pleasures que clicou comigo imediatamente.

“No Joy Division, eu tinha insônia e ficava acordado até tarde. Eu estava construindo sintetizadores – eles levaram meses para construir, soldando todos os componentes, e eu tinha [a trilha sonora de] 2001: Uma Odisséia no Espaço tocando ao fundo. Se você tirar o monólito daquele filme, ele terá a mesma forma.”


Ele disse a MOJO em 2005 que a banda se aproximou dele com um arquivo de cortes e ofereceu o enredo das ondas de rádio do CP 1919 e outra imagem enigmática de uma mão saindo de trás de uma porta sombria, tirada do livro de fotografias O Sonâmbulo (1970), de Ralph Gibson.

Saville lembrou: “[Eles disseram:] gostaríamos que fosse branco por fora e preto por dentro. Eu peguei esses elementos e os juntei da melhor forma possível. Ninguém disse qual o tamanho ou onde – eu tinha que descobrir como. Contrariei as instruções da banda e o fiz preto por fora e branco por dentro, o que me pareceu ter mais presença.”

Uma edição do 40º aniversário do álbum replica a ideia da capa branca original:

Edição comemorativa de 40 anos de Unknown Pleasures em vinil. (Imagem: Ecommercedns)

Saville acrescentou: “Chamava-se Unknown Pleasures (Prazeres Desconhecidos), então pensei que, quanto mais essa coisa preta enigmática pudesse ser, mais ela evocaria o título.”

Enquanto isso, Harold Craft não tinha ideia de que seu trabalho havia sido transformado em um dos designs de capa de álbum mais icônicos da história. “Eu não tinha a menor ideia”, disse ele a Jen Christiansen (via Scientific American no Youtube).

Entretanto, sua atitude não poderia ter sido mais pragmática: “Então, fui à loja de discos e, filho da mãe, lá estava ela. Comprei um álbum e um pôster também, sem nenhum motivo específico, exceto por ser a minha imagem e que eu deveria ter uma cópia dela.”


Texto livremente baseado nos artigos da Scientific American: Pop Culture Pulsar: Origin Story of Joy Division’s Unknown Pleasures Album Cover e The Pulsar Chart That Became a Pop Icon Turns 50: Joy Division’s Unknown Pleasures; e What does the cover of Joy Division’s Unknown Pleasures mean?, da Radio X UK.

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