Mantendo o alto nível, registro configura possível canto do cisne do ato canadense
Por Luiz Athayde
A história do Handful of Snowdrops se confunde com a linha do tempo do darkwave. Embora conte com um delay de três anos em relação aos chamados pais do estilo Clan of Xymox, este grupo canadense da cidade de Quebec traz um portfólio do mesmo quilate do icônico grupo neerlandês.
Ainda assim, a selva voraz do mundo da indústria musical não perdoa: sobrevivem os mais fortes – ou os mais sortudos.
Formado na classe de 1984 ainda como uma falange estável, o líder Jean-Pierre Mercier, mais seu irmão Michel Mercier, Michel Plamondon e Christian Lefebvre editaram o primeiro trabalho, Land of the Damned somente em 1988.
De lá para cá, mudanças na formação, hiatos, incertezas, mas também lançamentos cada vez mais evoluídos, alguns beirando ao espetacular, como III, de 2015.
Em 2019, o que parecia uma volta definitiva, tomou ares catastróficos, quando a plataforma de financiamento coletivo Pledge Music retirou seus arquivos (e de outros artistas), assim como toda sua grana, causando um rombo além do financeiro, ou seja, psicológico, fazendo Jean-Pierre repensar se valeria a pena continuar.
Felizmente, a decisão de seguir em frente venceu e 2020 chegou com dois plays estendidos para ninguém botar defeito: os EPs The Four Winds e Asymmetrical.
Na verdade, muitos mal sabiam que as faixas de ambos os registros deveriam fazer parte de um disco cheio, intitulado ‘Blanc’, com todas as variantes que influenciaram a carreira do grupo.
E o conta-gotas final enfim, chegou. The Impossible Dream surge como uma mensagem bem clara: “Estou cansado e vazio, mas ainda assim não vou de bom grado. Vou [embora] porque não tenho outras opções. Nenhuma”, disse a mente mestre em nota oficial.
Como o mesmo faria parte do álbum, o nível que segue alto. A abertura se dá com “I Can’t Breath”, algo como uma intro de influência clássica para dar todo um suspense.
Na sequência, o pequeno registro entra com tudo em “Misunderstanding”, tendo as honras vocais de Pascale Mercier, também conhecida como Pascale Project; além do baixo de Michel – tudo em família, tudo em casa.
“Love Letters Perfumed With Ether” é outra grata surpresa por sua pegada extremamente direta, com um desfecho melodioso de elevar qualquer fã gênero nas alturas. Em outras palavras, Coldwave clássico, no melhor estilo… próprio; sim, qualquer comparação aqui seria mero engodo.
Já a faixa título reforça a tradição de (ou dos) Mercier de composições longas, densas e notavelmente climáticas, assim como “Understanding”, uma reprise etérea da faixa 2.
Até segunda instância – leia-se: a base de fãs apoiadores aumentar – é provável que esse seja mesmo o canto do cisne de um dos nomes mais consistentes da esfera darkwave/synthpop. Embora triste, já que, em meio a toda a pandemia, ainda vivemos uma era de efervescência deste estilo, esse tipo de decisão se mostra totalmente compreensível.
No fim o que fica é o conjunto da obra, até pintar uma luz no fim do túnel e Jean-Pierre Mercier editar novos trabalhos deste quilate. Vamos ver o que o futuro reserva.
Ouça The Impossible Dream no Bandcamp.
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