Brigada brasileira de um homem só voltou com um álbum mais contemplativo, sem deixar a agressividade de lado
Por Luiz Athayde
Foi-se o tempo que os órfãos brasileiros da lendária multifacetada banda Bathory precisavam recorrer a outras fronteiras para ouvir falanges influenciadas pela banda sueca. Desde 2013 um guitarrista de Vila Velha, ES tenta carregar a tocha que outrora pertenceu a Quorthon, sem esquecer outros nomes que pavimentaram a esfera extrema do cenário metálico. Venom, Sodom, Kreator e Destruction são apenas algumas influências do guitarrista, vocalista e mente mestre por trás do Goat Worship.
Há tempos sob a alcunha Hades (Diogo Maia), seus currículo no underground nacional não chega a ser uma novidade; o guitarrista também assinou trabalho com o Wardeath em 2008. Mas é em vôo solo que sua carreira começa dar sinais de despontamento.
Curiosamente, Breathing the Dark Past é o primeiro registro por um carimbo nacional. Após alguns anos fazendo parte do cast da Xtreem Music (de Avulsed, Disgorge, Demigod e outros) a “banda” fechou com o carimbo My Dark Desires Records, que por primar pela qualidade de seus lançamentos, já figura entre os grandes selos especializados em música extrema no Brasil, batendo de frente com produções estrangeiras.
Novo selo, novo álbum e novas influências, mas de uma mesma banda. Se nos discos anteriores a ordem era a velocidade, agora quem toma a frente é a era viking da banda sueca, especialmente dos álbuns Blood Fire Death (1988), Hammerheart (1990) e Twilight of the Gods (1991), que não é apenas a fase mais querida dos fãs, como a responsável por proliferar um incontável número de bandas mundo agora. E com o Goat Worship não foi diferente; apesar do ouvinte identificar imediatamente a origem da música banda, nota-se também a gana ao registrar esta nova feita.
Contando com uma bela pintura do norueguês Nicolai Arbo – em tempo: Thomas Forsberg lançou mão de obras do pintor nos álbuns acima citados –, o disco abre com uma intro que denota uma cartilha até hoje seguida pelas bandas de heavy metal, mas felizmente sem soar massante aos ouvidos. O passado negro se mostra com “Father of All”, inclusive com direito a videoclipe exibido tempos antes como aperitivo para tal lançamento. Se há uma faixa que revela bem as influências – ou passadas de cartão mesmo, pode-se dizer – do disco de 1988 dos suecos, é “Dead Men’s City”. Todos os andamentos estão ali; para a alegria dos fãs.
“Destiny of the Gods” vem com aquele típico suspense antes dos riffs explodirem em mais um mote épico. “Life” é o retorno da sonoridade rápida que lhe rendeu credenciais no undeground internacional, enquanto que “War Among the Gods” e “Living in Farms” trazem uma pegada mais cadenciada, assim como as vozes limpas de Hades, algo nada corriqueiro no trabalho do Goat. Para o desfecho, a quase rápida “The Shining” para pôr fim com uma bela melodia acústica em “Outro”.
Querer algo totalmente fora dos padrões em um gênero tão limitado e conservador – no sentido manter, preservar – como o heavy metal é querer militar aos ventos. Por muitas vezes vimos nomes já estabelecidos dentro da cena metálica lançarem mão de outras nuances, influências e experimentos, e serem condenados ao esquecimento; ou, no bom sentido, ganharem mais público – outros públicos. E por isso mesmo um dos grandes desafios é criar álbuns que denotem honestidade, algo um tanto esquecido entre as falanges mais antigas, e o Goat Worship vem ganhando status de “cult” justamente por essa mesma honestidade, até mesmo despretensiosa, focando, até segunda ordem, somente nas composições e na gravação de álbuns. Mas dada a qualidade da banda, suas músicas mereciam uma conferida ao vivo, especialmente Breathing the Dark Past; de longe, seu trabalho mais maduro.