O tal revival dos anos 90 segue produzindo algumas joias sônicas cada vez mais reluzentes
Por Luiz Athayde
O caminho mais comum quando surge uma banda inovadora é, com o passar dos anos e claro, lançamentos, tentar novas sonoridades. Isso quando não encerram as atividades.
A parte boa disso é que as mesmas deixam rastros que em algum momento serão vistos por novas gerações. Nomes? My Bloody Valentine, Ride, Lush, Slowdive… ah, tem o Cocteau Twins.
Embora este seja associado à esfera gótica, são grandes responsáveis por deixarem os vidros sônicos mais embaçados. Cortesia de suas guitarras em estado líquido, especialmente sob baixas temperaturas.
Na verdade, estes são nomes que deixaram pegadas enormes no caminho, que vêm sendo avistadas principalmente de dez anos para cá, com uma enxurrada de atos configurados das mais diversas formas – quarteto, trio, duo, banda de um músico só.
E por falar em água, o nome da vez, ao menos por esses lados (Class Of Sounds) vem da turística cidade de Veneza, Itália. Porém, sob uma ótica mais cinzenta: Glazyhaze.
O núcleo criativo é formado pela guitarrista e vocalista Irene Moretuzzo, e Lorenzo Dall’Armellina, que também comanda as seis cordas. Quando não estão nos palcos com Francesco Giacomin e Paolo Canaglia, o mote é compor.
Parte desse resultado pode ser conferido no seu álbum debut, Just Fade Away, lançado por carimbo independente nos formatos CD, vinil e digital.
Só pela introdução já seria o bastante para te dizer: aperte o play logo, que é esse o caminho seguido pela dupla. De fato, é o suficiente, mas a audição se torna ainda melhor quando você sente a mesma paixão por ouvir que esses italianos tiveram para compor. Essa é a impressão que o álbum passa.
Faixas como “Ouverture” e a brilhante “The Shadow of Your Smile” são de fazer qualquer fã de Miki Berenyi e Emma Anderson tremerem dos pés a cabeça; dada a envolvente abordagem sonora. “Saltless”, um dos singles que anteciparam o lançamento do disco, navega pela mesma costa que o Slowdive no começo da década de 90.
O duo veneziano também ataca de pós-punk, mas sem perder a veia etérea, e “Censor Me” e “A Glimpse of Light” (outro esquenta do álbum) são os melhores exemplos.
Também não dá para esquecer “The Other Side”, que não sei se foi algo estratégico, mas encerra o álbum como se um adulto tivesse tirado o doce da boca de uma criança. Inclusive esta ganhou single e videoclipe lançado há poucos dias.
A atmosfera presente ao longo das músicas traz um caráter para lá de nostálgico, é verdade. E só foi possível graça ao trabalho fantástico na parte técnica, que envolve a produção, assinada pelo Glazyhaze, juntamente com Francesco Giacomin e Paolo Canaglia.
Os trabalhos de mixagem e masterização ficaram a cargo de Andrea Volpato (New Candys, Love in Elevator), feitos no Fox Studio em Seattle, EUA. O álbum teve gravações divididas entre os estúdios da Act Cool Records em Londres, Inglaterra, e no Il Baito Studio, em Vicenza, Itália.
Nada como pegar o que de melhor já foi feito e juntar de forma inspirada, com músicas extremamente cativantes, sem soar um mero cover. Just Fade Away se configura exatamente dessa forma, figurando com facilidade uma galeria de entusiastas, como Resplandor, True Sleeper (este, de Roma) e tantos outros andam circulando por essas nuvens. Disco para ouvir sem parar.
Ouça Just Fade Away na íntegra pelo Bandcamp, ou abaixo, no Spotify:
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