A paisagem sonora sombria agora vinha inspirada pelo ocultismo de Aleister Crowley
Por Luiz Athayde
Até hoje, banda como o Fields of the Nephilim não há. E esse fato não se limita somente à esfera gótica. Porém, é nesse terreno que o vocalista e letrista Carl McCoy e cia dominam desde sua formação, em Stevenage, na classe de 1984.
E por falar em ano, o corpo docente gótico proveu, neste dia, em 1988, a continuação natural do debut Dawnrazor (1987), sob o título The Nephilim.
O line-up seguia firme inclusive no visual extraído dos filmes de faroeste: McCoy, os irmãos Paul e Alexander ‘Nod’ Wright (guitarra e bateria respectivamente), Peter Yates (guitarra) e outra mente criativa, o baixista Tony Pettitt.
Aliás, a produção é da própria banda, que contou com Timm Baldwin (Modern English, General Public) para a mixagem, e Ian Gillespie (Gary Numan, Bauhaus, Tones on Tail) na masterização.
Já o primeiro trabalho, que é o de gravação, ficou pelas mãos de Brad Davis, na chamada “Sala da Justiça” (“The Justice Room”), um antigo tribunal inglês onde os réus condenados à morte eram enforcados.
Cá entre nós, atmosfera mais indicada que essa para o registro, impossível. Mas quem recorda é Tony Pettitt: “O lugar tinha uma vibração muito legal”.
Tal clima rendeu um álbum composto por uma jornada contínua de quase 1 hora de guitarras inquietantes, um baixo para lá de hipnótico – marca registrada –, a narrativa ocultista de McCoy, ruídos e samples.
Ainda sobre inspiração, o baixista comentou: “Criativamente, estávamos em alta”. Não à toa, isso também se refletiu na hora de gravar: “Celebrate” levou apenas uma única tomada – ou take, como costumeiramente é dito.
Essa faixa, em particular, mostra um dueto entre a voz de McCoy e o baixo de Pettitt, com algumas ambiências proporcionadas pelas guitarras de Wright e Yates.
O mote era causar impacto partindo de uma perspectiva sonora minimalista, como os nomes que formaram Pettitt no âmbito musical; Joy Division, Velvet Underground, mas também dub, reggae. Segundo ele, “todas com simplicidade, mas com uma sensação incrível”.
E acrescenta: “Eu me considero um baixista virtuoso, mas às vezes acho que as limitações podem ser uma coisa boa, pois ajudam você a encontrar seus pontos fortes e desenvolver seu próprio estilo à sua maneira.”
Inclusive isso vale até mesmo para “Phobia”, uma cópia escancarada de “Ace of Spades”, do Motörhead. Sua pegada parece destoar do restante do álbum, mas, ao ouvir o mesmo da maneira correta, ou seja, da primeira a última faixa, você percebe que ela está no lugar que deveria.
Na abertura, “Endemoniada” (sim, em espanhol mesmo), a banda faz referência ao longa mexicano de terror, La endemoniada (1968).
Mas, entre os sons que dali saem, um é cortesia do corcunda enlouquecido interpretado por Ron Perlman, no filme O Nome da Rosa (1986), ao rosnar: “penitentziagitae!”
Ao menos naquele período, o uso de samples resultando como parte integrante da música, era algo inédito nesta esfera mais subterrânea do rock. Diferente do dub, algo bem comum, e de de discos pop de grande orçamento. Além dos Beatles, que usavam o estúdio como instrumento.
Tematicamente, The Nephilim é basicamente calcado na filosofia do mago e escritor Aleister Crowley. O single mais marcante é “Moonchild”, nome de seu romance homônimo, publicado em 1929. “Love Under Will” é outra faixa inspirada nele, seguindo diretamente pela via thelemita: “Amor é a lei, amor sob vontade”.
No entanto, “The Watchman” sugere os vigilantes. Já sua letra evoca a entidade cósmica criada pelo escritor americano H.P. Lovecraft, Cthulhu, que também aparece em “Last Exit for the Lost”, faixa que encerra o álbum.
Quanto as paradas, o segundo álbum do Fields of the Nephilim foi bem, obrigado: número 12 no Reino Unido. E o single, “Moonchild”, alcançou o 40º lugar, também no quintal de casa.
Agora, indo para os licenciamentos, The Nephilim saiu carimbado pela Situation Two/Beggars Banquet, nos formatos vinil, cassete e CD. Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Espanha e Itália ganharam as primeiras prensagens.
Com mais esse aniversário, o registro ganhou reedição em CD e vinil duplo pela Beggars Arkive, contendo o álbum original no disco 1 e no lado A do disco 2; e as faixas “Celebrate (Second Seal) Full Version” e “Psychonaut Lib III” no lado B do segundo LP.
Ainda:
+ A faixa “Shiva”, originalmente o lado b do single “Moonchild”, foi incluída apenas na versão em CD do álbum, editada em 1988.