Álbum de estreia da artista britânica põe em xeque se há necessidade da volta do Lush
Por Luiz Athayde
Melhor surpresa não há. Emma Anderson lançou seu primeiro álbum de estúdio, para nossa alegria. A outra parte da sensacional banda Lush carimbou, via Sonic Cathedral, o sugestivo Pearlies.
Sim, um conjunto de pérolas que constituem um colar sônico envolto a muito dreampop, shoegaze e neopsicodelia.
E não poderia ser diferente. Parte das dez composições presentes no disco seriam usadas na sua ex-banda. A reaparição do Lush foi meteórica, e rendeu apenas um EP, excelente por sinal, intitulado Blind Spot (2016).
Foi quando, anos mais tarde, que a violoncelista e arranjadora Audrey Riley e Robin Guthrie (Cocteau Twins) trocaram aquela ideia com ela, a fim de convencê-la a iniciar uma carreira solo.
Devidamente convencida, eis que surge a pandemia de Covid-19. Ainda assim, os trabalhos seguiram já com James Chapman (Maps) assumindo a produção por sugestão da gravadora.
“Ele acabou sendo exatamente a pessoa certa. As pessoas tendem a ver o James principalmente como um produtor eletrônico, mas ele tem muito mais qualidades”, disse Emma, como previamente reportado.
Por outro lado, o processo criativo foi um verdadeiro mergulho no “eu” de Emma. Em outras palavras, um autoteste para saber se conseguiria seguir sozinha. E é óbvio que ela foi muito bem, obrigado.
O registro abre com “I Was Miles Away”, uma clara ponte temporal ligando a psicodelia sessentista e o pop que assolou o Reino Unido na década de 90.
“Bend The Round” vem logo atrás com uma roupagem soul e igualmente cinemática. Aqui ela assume as influências de Michael Kiwanuka e Serge Gainsbourg. Trilha sonora nata. “Inter Light” explora ainda mais esse lado ao lançar mão de uma atmosfera orquestral, remetendo ao espaço. Hipnotizante define.
Pop dos sonhos é a máxima em “Taste the Air” que, cá entre nós, caberia perfeitamente no longa As Virgens Suicidas, de Sofia Coppola. Mas a gente sabe que o Air fez um trabalho fantástico ali.
A típica pegada celestial do dreampop feito por vias etéreas vem com “Xanthe”. E não é à toa: seu significado inclui desde amarelo ouro a uma lista de divindades femininas.
Mas agora é hora de pisar no chão com a viciante “The Presence”, lançada dias atrás como single. Curiosamente, a inspiração para essa música foi Siouxsie and The Banshees, em especial “Spellbound”.
Sua pegada singela esconde, na verdade, um tema recorrente aos tempos modernos: ansiedade. “É algo que me incomoda de vez em quando e a letra fala sobre isso e também sobre as técnicas que aprendi a usar para superá-la”, revelou.
Um dos pontos altos surge na faixa seguinte. “Willow And Mallow” é o Lush clássico, mas sem bateria. Trata-se de Emma devidamente acompanhada por uma cama de teclados e arranjos acústicos para brilhar na sua performance vocal.
Já em “Tonight Is Mine” o protagonismo é eletrônico, porém, não menos viajante. Algo como Pink Floyd encontra Jean-Michel Jarre no céu. “For A Moment” soa como se fosse uma maravilhosa demo das sessões Spooky – disco do Lush de 1992.
“Clusters” encerra ao estilo Stereolab, como ela mesma admite. Entretanto, Belle and Sebastian é um nome que também não se encontra muito distante.
Tanto como banda quanto marca, o Lush é parte de um período histórico no rock alternativo britânico. Porém, dada a quantidade de canções inspiradas nesse debut, é possível questionar se há mesmo a necessidade de um retorno.
Em suma, Pearlies é Emman Anderson no seu melhor. Álbum fantástico.
Ouça na íntegra (e adquira o formato físico) pelo Bandcamp. Ou a seguir, via Spotify:
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