Enfim, Deb Demure consolida o que vinha fazendo desde Unarian Dances
Por Luiz Athayde
A onda nostálgica na caminhada para o fim dos anos 2010 nunca foi tão forte. As décadas de 60, 70, 80 e até mesmo 90 se misturaram em uma avalanche de lançamentos sônicos que, haja tempo e prioridades. E mesmo com todos os meios midiáticos para os conferes.
Em grande escala, estão os atos voltados para os anos 80; com suas simulações de trilhas de filmes, séries, jogos e comerciais da época. Os americanos do Drab Majesty pertencem a parcela dos que pegaram o que havia de mais tosco e visualmente exagerado e trouxeram para o agora, em um mix que navega pelo synth, cold e outros waves.
Após o mais que bem-sucedido The Demonstration, de 2017, Deb Demure e seu companheiro Mona D retornam com o que pode-se dizer ser a consolidação do que vinham fazendo desde sua gênese discográfica, o EP Unarian Dances (2012).
Mais uma vez saindo pelo carimbo independente Dais Records, Modern Mirror conta com a aparição do guitarrista Justin Meldal-Johnson, que já trabalhou com nomes do porte de Beck, M83, Nine Inch Nails e outros. Algo, na verdade, que apenas endossou a sonoridade “geladeira aberta” do duo.
“A Dialogue” é quase um anúncio do que seria o futuro partindo do ponto de vista oitentista – um mote para lá de comum entre bandas do gênero, diga-se. Essa abre caminho para “The Other Side”, detentora de uma pegada mais pop, se relacionando com falanges europeias assinadas pelo mestre Michael Cretu, mas com aquele tempero Duran Duran no refrão.
Como já é especialidade da casa, a amostra reta do disco se dá com “Ellipsis”. Inclusive a mesma casaria em qualquer cena de ação da série queridinha dos Centennials e velhos nostálgicos, Stranger Things. Na introdução de “Noise Of The World”, eu poderia jurar que entraria o saxofone de “Samurai” (Michael Cretu), mas não: ela toma outros rumos – cadenciados e atmosféricos.
“Dolls In The Dark” seria minha aposta para as pistas de dança. Embora “Oxytocin” cumpra lindamente seu papel de expulsar seus últimos baladeiros.
Brincadeiras à parte, a mesma foi originada no meio de uma turnê com o Kælan Mikla, e aos poucos foi tomando a forma que é agora. Além de ter ganhado um vídeo com lentos takes e cabelos esvoaçantes. Aliás, um dos clichês audiovisuais mais legais da chamada “década perdida”.
De volta a 1990, “Long Division” soa como um hit perdido no desfecho daqueles tempos, tocada em alguma tarde ociosa na Rede Antena 1. Outra que ganhouclipe foi “Out Of Sequence”, encerrando o álbum tão “new” quanto “cold” wave.
Isso só serviu para abrir caminho para a injusta disputa de melhores lançamentos da classe de 2019. No entanto, mal entramos no segundo semestre.
Não se sabe até quando essa fórmula irá durar, mas enquanto houver inspiração para álbuns como esse, nossos ouvidos certamente estarão agradecidos.
Ouça Modern Mirror aqui: