Grupo inglês se consolidava como uma falange consistente perante a crítica
Por Luiz Athayde
Neste dia, no ano de 1990, o grupo inglês Depeche Mode dava seu maior salto discográfico no que diz respeito a inspiração, criação e ao se estabelecer como uma banda consistente.
Violator foi o sétimo álbum e o resultado de trabalhos entre maio de 1989 e janeiro de 1990. E em cinco estúdios diferentes: Logic (Milão, Itália), Puk (Gjerlev, Dinamarca), The Church e Master Rock (Londres, Inglaterra) e Axis (Nova Iorque, EUA).
A produção foi assinada pela banda, juntamente com o renomadíssimo Mark Ellis, mais conhecido como Flood. Suas credenciais envolvem grupos como New Order, Ministry, Nitzer Ebb, U2, Nine Inch Nails e lista infinita.
“Normalmente, começamos a gravar um disco realizando extensas reuniões de pré-produção, nas quais decidimos como o disco realmente soará e depois entramos em um estúdio de programação”, disse Alan Wilder.
Mais que um integrante, uma das figuras-chave do grupo acrescenta: “Desta vez, decidimos reduzir ao mínimo todo o trabalho de pré-produção. Estávamos começando a ter um problema com o tédio, porque sentimos que alcançamos um certo nível de conquista ao fazer as coisas de uma certa maneira”.
O primeiro dos quatro singles a serem extraídos daquelas sessões foi “Personal Jesus”. Lançado em 28 de agosto de 1989, o registro foi parar direto na 3ª posição da Billboard norte-americana.
Mas foi no segundo, “Enjoy The Silence” (5 de fevereiro de 1990), que a banda soube o que é alcançar a estratosfera – coisa devidamente esboçada após o lançamento de Music For The Masses (1987). Ou seja, 1º lugar na Billboard, nas paradas dinamarquesa e espanhola, e primeiras posições em países como Suíça, Alemanha e Finlândia.
Curiosamente, o single tem uma história simples, mas que fez toda a diferença. Assim como todo o álbum, as composições são assinadas pelo guitarrista, compositor, programador, ocasionalmente vocalista e líder Martin L. Gore. Tudo que ele tinha era uma demo acústica da canção. Foi quando recebeu a “proposta” de Alan Wilder para melhorá-la, a fim de torná-la dançante.
Não à toa, Flood aproveitou o máximo suas habilidades para polir as composições. “Foi assim que fizemos o grupo funcionar naquela época”, explicou Wilder.“Aceitando que todos nós tínhamos funções diferentes e não tentando fazer a mesma coisa. Então, acabamos com esse acordo não escrito na banda, em que todos nós lançávamos algumas ideias no início de uma faixa. Em seguida, Fletch e Mart iam embora e voltavam depois de termos trabalhado nela por algum tempo para dar uma opinião.”
Como a letra, ao contrário do que muitos pensam, não se trata de amor, mas sobre o vício em drogas (heroína). Até então seria pouco provável transformá-la em algo condizente com as pistas de dança. Mas foi o que aconteceu: Wilder a moldou, e graças a isso os rankings provam por si só.
No mesmo ano, o grupo ainda lançou “Policy of Truth” (07/05/1990) e “World in My Eyes” (17/08/1990).
Outra coisa notável, segundo o produtor, foi o espírito de equipe que tomou conta da banda, incluindo liberdade criativa em cima das demos de Gore. O marco zero foi com “Personal Jesus”:
“Todo mundo estava se sentindo mal, porque eles queriam tentar trabalhar de uma maneira diferente. A idéia era trabalhar duro e festejar muito, e todos nós nos divertimos ao máximo”, disse.
Violator entra na categoria synthpop, porém, suas influências são inimagináveis. Uma delas está em “Clean”, outras sobre drogas, inspirada em “One of These Days”, do Pink Floyd.
Wilder revelou:“Eles [Pink Floyd] estavam fazendo algo muito diferente do que qualquer outra pessoa naquele momento – você pode ouvir música eletrônica lá, e a influência da música clássica. O som é muito repetitivo e sintetizado, e os riffs de baixo com eco têm um ritmo muito hipnótico que o sustenta. Basicamente, cortamos essa ideia [para ‘Clean’]”.
Quanto ao título do álbum Gore contou que a banda queria implicar com os metaleiros. “Nós o chamamos de Violator como uma piada. Queríamos criar o título mais extremo e ridículo de Heavy Metal que pudéssemos. Ficarei surpreso se as pessoas entenderem.”
Independente de entenderem ou não a piada, a crítica especializada recebeu super bem o disco dos britânicos. A Melody Maker já chegou dizendo que era o “trabalho mais impressionante até hoje”, enquanto que a Record Mirror disse ser um “compromisso entre música pop e algo um pouco mais sinistro. Não há ruídos fora do lugar nesse vazio perfeitamente formado”.
A NME foi mais contida, mas não menos afável: “Parece quase um passo atrás, na medida que é mais limpo, escasso e mais clínico do que o ‘Music for the Masses. (…) Há segurança no conhecimento de que tudo está muito claro no mundo azul e branco do Depeche Mode”.
A Rolling Stone enfatizou a performance do vocalista Dave Gahan, dizendo que, apesar de seu “charme ambiente”, Gahan parece “viscoso e auto-envolvido” e, na tentativa de fazer os ouvintes dançarem, Depeche Mode “reverte para a melancólica psicologia pop e nunca lhe diz como é que eles são tão tristes.”
No âmbito dos licenciamentos, são quase 300 edições; entre CD, vinil e cassete, lançados e relançados entre 1990 e 2019. Sem mencionar piratas de anos desconhecidos.
No Brasil, Violator saiu nos três formatos simultaneamente ao mundial, coisa até então rara por esses lados. Das reedições especiais, CD +DVD remasterizado contendo mais uma parte do documentário contando a história da banda, assim como b-sides de singles e remixes.
Ainda:
+ A arte leva a assinatura óbvia de Anton Corbijn.
+ Um dos engenheiros de som foi Daryl Bamonte, irmão de Perry Bamonte, guitarrista do The Cure.
+ A mixagem de “Enjoy The Silence” foi assinada pelo CEO da Mute Records, Daniel Miller.
+ Realizado por Anton Corbijn, o vídeo de “Enjoy The Silence” foi filmado em diversos países europeus, como Portugal, Espanha e Suíça.