Conexões diretas com Ingmar Bergman fizeram deste um dos maiores clássicos do duo Aussie
Por Luiz Athayde
A transição de ambientações góticas para o world music não poderia ter sido mais natural. Vindos de uma pegada bem etérea com os álbuns Spleen and Ideal (1985) e Within the Realm of a Dying Sun (1987), o próximo passo seria a adição de influências, ou o retrocesso para algo mais básico como o pós-punk. E em seu quarto álbum, os australianos do Dead Can Dance deram um pequeno passo à frente.
O disco saiu novamente pelo icônico carimbo 4AD, e contou com produção assinada pelo núcleo criativo, Brendan Perry e Lisa Gerrard, mais o companheiro de estúdio John A. Rivers. Boa parte do álbum foi gravado no home studio de Perry.
A capa foi feita sob os prismas da natureza e da sétima arte, e mostra uma visão aérea de um rio da Amazônia. Como se fosse uma serpente.
Linkando diretamente com um dos clássicos do cineasta sueco Ingmar Bergman, Perry teve a “luz” para o título do álbum: The Serpent’s Egg (O Ovo da Serpente).
Ele descreve o filme como “um experimento social nazista, colocando drogas na comida de outras pessoas, sem que elas soubessem, e as filmando por trás de espelhos, para ver quais eram seus pontos de ruptura.”
E continua: “Era um filme realmente estranho, e o título sempre preso. E a imagem do rio que se abre para o estuário, você pode ver o banco de areia embaixo da água, esse é o ovo para mim, mas às vezes as coisas são tão subliminares, pois não há uma razão real para a escolha. Gostei do título e da imagem, mas eu amo o jeito que você pode ir do micro de uma selva à macro, olhando de cima, vendo rios como artérias no corpo, trazendo energia e força vital. expandindo sua mente e saindo para o universo maior. Também nos refere à música folk e mundial, tendo influências diferentes da América do Sul e da África.”
Curiosamente, a primeira empreitada “africana” na sonoridade do Dead Can Dance veio com a faixa “Mother Tongue”. Sincera, mas ainda rudimentar se olharmos álbuns posteriores de sua discografia.
No entanto, o duo manteve as influências europeias com “The Host of Seraphim”, claramente inspirada em música búlgara.
The Serpent’s Egg lançava mão de uma maneira inovadora ao inserir essas influências ao Neoclassical Darkwave, porén, o reconhecimento só veio anos depois. Vide a crítica, com notas, por exemplo do AllMusic, dizendo:
“Perry e Gerrard continuaram experimentando e aprimorando The Serpent’s Egg, tanto quanto o que Spleen and Ideal foi há alguns anos”. A faixa “The Host of Seraphim” também ganhou elogios, sendo chamada de “tão impressionante que a única reação possível é a pura reverência”.
Foi também o álbum que mais serviu como samples e trilhas. “The Host of Seraphim” figura os filmes Baraka (1992), A Volta dos Bravos (2006), O Nevoeiro (2007) e Lords of Chaos (2018). Além da repaginada de “Song of Sophia” em “Song to the Siren”, do The Chemical Brothers, em seu álbum Exit Planet Dust (1995).
No âmbito dos licenciamentos, lançamento mundial em LP, cassete e CD, reedição japonesa no disquinho compacto em 1990, e edição mexicana nesse formato em 1995. Isso só para citar alguns.
Há também uma série de piratas pelo Leste Europeu, mas com datas tão desconhecidas quanto a procedência de suas cópias.
Pingback: Dead Can Dance: neste dia, em 1985, “Spleen and Ideal” era lançado - Class of Sounds