Banda cult do doom metal holandês voltou com uma de suas formações mais antigas
Por Luiz Athayde
Para os amantes da esfera gótica, o primeiro nome que vem à cabeça é naturalmente os desbravadores do darkwave Clan of Xymox. Já quando o assunto é som pesado, ou melhor, Death/Doom Metal, aí a coisa fica mais ampla.
A mesma escola que gerou The Gathering, bem-sucedido com sua pegada mais alternativa, também revelou, na classe de 1991 o Celestial Season.
Como muitas brigadas metálicas, a troca de integrantes foi uma constante ao longo da história do grupo de Nijmegen, mas que soltou álbuns seminais, que rapidamente adquiriram status de cult, até pela dificuldade de se encontrar cópias, como a estreia, Forever Scarlet Passion, de 1993 e, especialmente, Solar Lovers, lançado em 1995, com sua mescla de doom, violinos e um quê de stoner rock.
Daí em diante os cabelos grandes foram embora e a sonoridade, outrora arrastada, deu lugar de vez ao som de Palm Desert, tendo o Kyuss como nítida influência.
Em 2011 a banda tentou uma nova reunião, daquela vez com o vocalista George Oosthoek (ex-Orphanage), mas não foi adiante. E eis que mais uma vez o grupo reapareceu “do nada” com um novíssimo álbum em 20 anos, The Secret Teachings.
E mais: boa parte da formação que gravou os dois primeiros discos também veio junto; o baterista e “faz tudo” Jason Köhnen, Stefan Ruiters (vocais), Pim van Zanen (guitarras), Olly Smit (guitarras), Lucas van Slegtenhorst (baixo) e Jiska ter Bals (violino), acrecentada pela nova integrante (desde 2011) Elianne Anemaat no violoncelo.
Geralmente, quando uma banda com tantos anos e com uma discografia considerável se reúne, a sina do passado costuma ser a máxima, mas não foi o que aconteceu aqui. The Secret Teachings referenda seus primeiros anos e ainda traz novos elementos, que passam pelo post-rock, shoegaze e até progressivo.
A música de trabalho que o diga, a viajante “Lunar Child”, um contraponto tão lisérgico quanto a conhecida “Solar Child”, mas ainda mais densa. Assista o vídeo abaixo.
Os vocais agressivos de Reuters – intactos, diga-se – e o retorno do piano, violino e violoncelo dão um certo ar de nostalgia, fazendo um belo balanço com as novas nuances. Não foi por acaso que a faixa título abre o registro, seguida por “For Twisted Loveless”. Em outras palavras, o objetivo é pegar o fã mais antigo logo de cara. E pega.
Lá pelo fim do disco a banda se lança em uma arriscada homenagem ao Type O Negative, revelando uma versão sui generis de “Red Water”, do icônico álbum dos nova-iorquinos October Rust. E acredite, deu muito certo. Tanto que é facilmente um dos pontos altos do álbum; tétrico, atmosférico e ao mesmo tempo com uma estranha suavidade assinada pela vocalista inglesa Kitty Synthetica.
Em suma, este é um caso de retorno às atividades que não apenas rendeu o álbum mais completo de sua discografia, como tem tudo para ser prolífico, mesmo gerado na (eterna) pandemia da covid-19.
The Secret Teachings se encontra disponível no Bandcamp nos formatos, CD, vinil duplo preto e vinil duplo splatter. Ouça completo abaixo ou no Spotify.