Formação liderada pelo vocalista Dan Pieroni vem buscando caminhos sônicos não convencionais desde 1999
Por Luiz Athayde
Entre meados dos anos 90 e outros tantos dos anos 2000, o universo musical presenciou uma larga escala de banda italianas despontarem na esfera do power metal. Mas, o que acontecia no subterrâneo pode até ter ficado obscurecido, mas não menos ativo. Em 1999 nascia a banda romana Bludeepa, através das vozes e da força criativa do vocalista Dan Pieroni, após temporadas integrando bandas covers.
A ideia já na sua gênese era condensar suas referências não tão óbvias a um tipo de música singular, original. Os anos passaram, bem como os lançamentos, incluindo a estreia discográfica – e esquisita/experimental – L’Età Inquieta, de 2002, e seu subsequente Heaven Arms With Love – Those Who Are Not to Be Destroyed, editado em 2018. Não muito adiante, três anos depois, e contando com Danilo Mintrone (piano, synth), Enrico De Angelis (baixo) e Emiliano Chiocciolini (bateria), ou seja, diferente dos primeiros dias, sai Tat Tvam Asi, por carimbo independente como todos os outros.
No decorrer de suas 11 faixas, sensações que ultrapassam qualquer ordem numérica, por trazer uma proposta heterogênea, ainda que o conjunto da obra se mostre a partir de um prisma: o do rock de viés eletrônico. E nesse pacote indefinido, conexões tortas com Gary Numan, Nine Inch Nails, Babylon Zoo, Massive Attack e a métrica experimentalista de nomes como David Bowie e Peter Gabriel – inclusive tendo escolhido um colaborador deste último, Saro Cosentino, para o trabalho de mixagem e masterização do disco.
Mas isso não quer dizer que estamos diante de um disco promove a dispersão. Muito pelo contrário, o aparente caos possui doses cavalares de melodias e nuances pop, tudo construído com muito afinco. Se por um lado o registro já abre com a estranha “Iron & Flesh” (sinais longínquos de Einstürzende Neubauten?), “The Billowing Song” é reprisada (do ‘Heaven Arms With Love…’) com teor radiofônico.
Mas a que ganhou videoclipe foi “Spiritual Summer”. Tire suas próprias conclusões abaixo:
“Solitude Standing” é outra que merece menção pelo andamento cinemático, mas surpreendentemente progressivo – que atualmente alguns chamam de post-rock. E ainda falando em filmes, “Rome is Burning” é protagonizada pela música clássica e seria uma boa pedida em um longa dramático mesclando noir e ficção científica.
Em outras palavras, Tat Tvam Asi é um álbum de qualidade inegável, mas que se encontra em uma espécie de zona cinzenta na esfera musical: ganharia notoriedade certeira se lançado em 1996, 1997… ou está a frente do seu tempo, apenas esperando ser redescoberto. Mas, como dizem que o tempo é o senhor da razão, basta esperar. De preferência, ouvindo.
Ouça o disco na íntegra pelo Spotify: