Conversamos com a pianista e compositora antes de arrumar as malas para o giro na Finlândia e Alemanha no fim do mês
Por Luiz Athayde
A pianista e compositora brasileira Bianca Gismonti está nos prepares de seu novo giro europeu, com duas apresentações na gélida Finlândia e uma na Alemanha. Contando com o italiano Paolo Andriolo (baixo) e Julio Falavigna (bateria) – que, inclusive, teve documentário sobre sua carreira musical, Paisagens Rítmicas, exibida em cinema de Porto Alegre –, Bianca segue na divulgação de seu recente álbum Desvelando Mares, gravado na Hungria e lançado pelo carimbo do país Hunnia Records.
Com um sobrenome carregado de história dentro e fora da esfera musical brasileira, a filha da lenda multi-instrumentista Egberto Gismonti já possui carreira internacional, graças à sua rica musicalidade de mote etno-cultural oriunda das mais variadas geografias, embora seja natural do Rio de Janeiro. Em uma rapidinha, antes de partir com mala, mas sem cuia para o norte da Europa, uma super solícita Bianca Gismonti falou sobre herança, inspirações, seu pai e mais.
Olá, Bianca, obrigado por falar com o Class of Sounds.. Como está a expectativa para esse giro pelo norte da Europa?
A expectativa é a melhor possível. Com o Trio, nunca tocamos na Finlândia e na Alemanha, então, será uma linda oportunidade de conhecer e dividir parte da cultura brasileira com estes públicos.
O jazz europeu possui tradição inclusive nos países que irá visitar, com registros datando dos anos 1920. Qual a importância de levar o seu tempero para fora do Brasil?
O Brasil é um país miscigenado; marcado pelo encontro e união de muitas culturas e muitos povos. Toda vez que levamos o Brasil conosco, estamos carregando influências indígenas, africanas, européias, orientais e tantas outras. Poder dividir esta crença na valorização de todas as culturas é de fundamental importância para toda a humanidade.
O novo álbum Desvelando Mares mostra uma sensibilidade fora de série. Isso se deve a feminilidade ou suas experiências mundo afora?
Como eu sou mulher, sou neta de brasileiros, árabes e italianos e viajo tocando, para muitos locais do mundo, há mais de duas décadas, acredito que a sonoridade será sempre conseqüente da junção disso tudo. Porém, no caso de “Desvelando Mares”, de fato, houve uma inspiração especial na obra de composites de diferentes locais do mundo (Japão, Tunísia, África, Armênia, Portugal etc) me gerando, mais uma vez, a sensação de que somos diversos, nos inspiramos mutuamente, porém possuímos, ao mesmo tempo, uma belíssima unidade na diversidade.
Dois dos alicerces do álbum e que estão contigo até hoje são o baixista Antonio Porto e o baterista Julio Falavigna. Como essa parceria começou?
Com o Julio, eu comecei a tocar em 2011 e a gravação de nossas primeiras experimentações geraria, em 2013, o primeiro disco do Trio, chamado “Sonhos de Nascimento”. Antes do disco, em 2012, eu conheci o Antonio e foi um encontro de total identificação musical. Julio já havia tocado com o Antonio na Europa, durante muitos anos, e os dois já eram bastante próximos. Foi uma junção linda, que sempre me trouxe aprendizados, experimentações e descobertas muito profundas. Os meninos trouxeram a musicalidade e experiência deles, e, a cada novo disco, fomos encontrando esta linguagem mesclada e generosa; em que cada um tem total liberdade de ser quem é e, ao mesmo tempo, construir-se a partir das diversas características do outro.
Recentemente você se apresentou comemorando 70 anos do seu pai, que é ninguém menos que Egberto Gismonti. O sobrenome pesa?
Falar do meu pai é falar de amor e generosidade. Começamos (eu e meu irmão, Alexandre Gismonti – violonista) a tocar com ele quando tínhamos 15 anos. Vivemos muitos anos em um palco plenamente amoroso e familiar, durante os anos em que viajamos com ele pelo mundo. A devoção e agradecimento à música (e ao público que a cultua) sempre foram marcos na nossa educação. Não haverá palavras para agradecer por tanta inspiração.
Em 2017, eu senti um chamado muito forte de celebrar os seus 70 anos em agradecimento pela obra absurdamente linda que ele vem construindo há tantos anos. Daí veio o repertório, o show e o disco (a ser lançado em 2020) de “Gismonti 70”.
Como será o repertório para esses shows? Terão músicas, por exemplo, de seu projeto Duo Gisbranco?
O repertório terá a maioria das músicas do nosso último disco, “Desvelando Mares”, porém incluindo duas do meu pai, Egberto, (“Forrobodó/Maracatú”), uma do Tom Jobim (“Água de Beber”) e mais duas composições novas que serão gravadas em próximos discos do trio.
E shows pelo país? Pretende deslevar mais essa parte do Atlântico?
Claro! Brasil e América do Sul são fundamentos para a gente!
Neste segundo semestre, temos estes shows na Finlândia e Alemanha. Em seguida, tournê na Argentina (Venado Tuerto, Rosário e Buenos Aires), diversos shows pelo Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília) e tournê na China (duas semanas em Xangai).
Já lançamos o “Desvelando Mares” em diversas cidades e seguiremos viajando com esta música!
Mais Bianca Gismonti:
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Ouça Desvelando Mares:
Entrevista: Luiz Athayde
Fotos: Daryan Dornelles, Piu Dip e Divulgação