Em forma desde 1998, brigada de RG carioca mostra o por quê de manter sua assinatura por tantos anos com tamanha energia
Por Luiz Athayde
Após uma sequência quase matadora de aperitivos em forma de singles e videoclipes, a formação surf/garageira, Autoramas, enfim, soltou seu novo álbum, Autointitulado.
O mesmo configura o nono registro de uma carreira marcada por inúmeras turnês nacionais e internacionais, e mudanças na formação, sendo o vocalista, guitarrista e mentor Gabriel Thomaz, o único membro original; tendo hoje, ou melhor, há bons e frutíferos anos, ao seu lado, a cantora, multi-instrumentista e compositora Érika Martins, bem como o baterista Fábio Lima e o baixista Jairo Fajersztajn – que inclusive divide a assinatura da produção do disco com Thomaz e Alê Zastrás.
São anos dançando com sucesso na zona entre o underground e o mainstream, mas nem por isso as coisas facilitaram. “Cortesia” da pandemia do Covid-19, que, até este exato momento, ceifou mais de 600 mil vidas. Além de ter dado um susto no casal e núcleo da banda.
Em nota, Gabriel fez um resumo do espírito do grupo ante os acontecimentos:
“Esse é um disco de sobrevivência: no tempo, no lugar e nas condições que estamos vivendo. Passamos dramaticamente pela crise, pelo Covid, nos adaptamos a tudo sem nunca parar de produzir, sempre pensando no trabalho, na música e no que o Autoramas sempre significou.”
Não à toa, o primeiro single a chegar ao público foi a raivosa e radiográfica “A Cara do Brasil”; uma das parcerias com Rodrigo Lima, voz da banda de hardcore capixaba, Dead Fish, que também rendeu a “Sem Tempo”.
O processo de gravação do álbum se deve muito a Jairo, que resolveu montar um estúdio de gravação em sua casa em Itatiba, interior de São Paulo, agora conhecido como Estúdio Vegetal. Quase todo mundo foi: “Érika estava na Chapada Diamantina se recuperando do Covid e gravou suas vozes por lá no Virgun’s Studio.” – explicou o guitarrista. “Lá pudemos tirar o atraso e registrar as ideias.
Reunimos todos os nossos equipamentos vintage ou modernos pela primeira vez. E dá-lhe Eko, Farfisa, Mosrite, Ludwig, Giannini, Theremin Óptico EFX, Tremolo MG, Vibratoramas e muito mais.” – detalhou o sempre empolgado Gabriel.
Só daí, já se sabe do que se trata: Autoramas clássico, conhecido dos amantes do bom som de garagem (“No Dope”, “Dinâmica de Bruto”), com boas idas à praia (“Nóias Normais”, “Dia da Marmota”) e às danceterias (“Estupefaciante”, e a sintomática “Ritmo do Algoritmo”), mas sem deixar uma balada de lado (a grudenta “Eu Tive Uma Visão”, resultado da parceria entre Gabriel e Érika Martins).
É claro que o velho punk rock se faz presente, como nas pedradas “Boneco” e “Fauna Abisal”; esta última cantada em espanhol, contando com letra do radialista e compositor argentino Maxi Martina.
O título do álbum poderia ter sido extraído de qualquer faixa, mas nada mais assertivo do que Autointitulado. É como se a banda se dirigisse àqueles ainda hoje incrédulos, que vivem no Planeta Brasil, há tempos dominado pelas forças sônicas do agronegócio, e dissesse, ao estilo do saudoso Goulart de Andrade: “Vem comigo!”
A diferença é que Érika, Gabriel, Jairo e Fábio não estão no ‘comando da madrugada’, mas da dissidência do viver de rock por esses lados.
E por falar nisso, Autointitulado se encontra disponível nas plataformas digitais carimbado pelo selo Maxilar, e chegará logo menos no formato físico sob distribuição da Ditto Music Brasil, e na Europa e Japão sob chancela da Soundflat Records. Ouça na íntegra abaixo, pelo Spotify.
Ainda:
+ Maxilar Music é uma gravadora alternativa criada no começo de 2021 por Gabriel Thomaz e Henrique Roncoletta, vocalista da banda NDK.
+ A princípio, os singles “Sem Tempo” e “A Cara do Brasil” tinham um futuro incerto, ou como singles independentes ou faixas bônus do álbum.
+ A capa é assinada por Gustavo Cruzeiro, responsável por algumas artes de singles da banda.
+ Comando da Madrugada foi um programa criado e apresentado pelo jornalista Goulart de Andrade, exibido nas madrugadas de sábado para domingo na Rede Bandeirantes, dos anos 80 até 2007.
Que álbum maravilhoso!! Muito bem descrito nesta resenha!
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