Sucessor de Rio do Tempo traz nítidos traços de evolução de um artista que já nasceu pronto para voar
Por Luiz Athayde
Falar de atos nacionais independentes nos dias de hoje parece um desafio, felizmente não pela falta de qualidade, mas pelo excesso de nomes que a todo tempo aparecem graças a internet. Eduardo Praça, o homem por trás do Apeles já estava por aí com o Ludovic e o Quadro Negro, mas especialmente a partir de 2017 após o lançamento de seu primeiro vôo solo Rio do Tempo.
Só que, em Crux Apeles chegou a um outro nível. Processado cuidadosamente em São Paulo e Berlim entre janeiro de 2018 e janeiro de 2019, a produção teve rédea própria, assim como a mixagem; esta em parceria com Zeca Leme. Por último e nada menos importante, a masterização teve assinatura de Roberto Kramer, detentor do projeto RØKR.
Entre flertes acústicos, nuances atmosféricas, eletrônicas e mesmo um tempero dark, o senhor Praça não demonstra medo em assumir suas influências – como Pixies e John Lennon por exemplo, devidamente descritas ao divulgar singles anteriores – justamente por saber, digamos assim, que sua sonoridade em Crux vai muito além de reprocessamento dos nomes que lhe serviram de inspiração; envolve paixão, mas um belo e melancólico clima de nostalgia, e ainda assim, sem soar piegas.
Mesmo tendo divulgado praticamente metade do disco nesse tempo, ainda soa injusto lançar mão de um tradicional “faixa a faixa”, já que o álbum, embora diversificado, soa homogêneo na sua essência, trazendo inclusive ares mais robustos a cena independente brasileira, tão prolífera nesses novos tempos virtuais. Mas algumas músicas são simplesmente impossíveis de deixar passar batido, como o primeiro single “A alegria dos dias dorme no calor dos teus braços”, como se o inverno europeu fosse parte das influências citadas acima, ou “Pele”, envolta a belas melodias de piano sucedidas por um marcante início com as quatro cordas.
Crux saiu agorinha via carimbo Balaclava Records, selo com acertos cada vez maiores em suas escolhas, assim como no capricho em torno das produções de seu cast. E com este lançamento o Apeles está longe de ser apenas mais uma fração na boa safra independente nacional, mas candidato a uma seleta ascensão que aos poucos está – se já não se encontra – tomando o mainstream. Evidência é uma mera questão de tempo, mas de qualidade, a classe de 2019 está bem servida. Grande disco.
Ouça Crux: