As “águas de março” encontraram os famosos ventos folk soprados no território canadense
Por Luiz Athayde
De uma maneira geral, quando vemos resenhas escritas ou comentários em vídeos sobre discos, é bem comum lermos/ouvirmos algo do tipo: “mistura de influências” que “resultaram em uma sonoridade única”, no sentido uniforme. Bom, não é exatamente o caso de Our House From Here, álbum de estreia do duo brasileiro Ana & Eric.
Quando li ‘baseados no Canadá’ e visualizei a capa – belíssima, assinada por Brenda Taylor, tirada nos arredores de St. John’s, em Newfoundland and Labrador –, já eliminei qualquer possibilidade de ser mais um genérico grupo indie.
Na verdade, a reação foi de surpresa. Grata, diga-se. Os prismas de Ana Luísa Ramos e Eric Taylor Escudero são o da bossa nova e a música folk. E o melhor é que não se trata de uma infusão, mas de terem feito estas duas esferas sônicas caminharem lado a lado em 9 composições; com um tema óbvio, olhando de fora, mas extremamente honesto.
“Fala sobre o processo de encontrar um novo lar em um novo país, enquanto olhamos adiante e perseguimos nossos sonhos, mas também olhamos para trás em busca de nossas raízes”, revela Ana em nota.
Lançado nas plataformas de streaming sob chancela do carimbo The Citadel House, o registro foi produzido Dean Stairs, da gravadora, que aqui também toca guitarra e teclado.
O lineup ainda inclui músicos renomados daquela região: Carole Bestvater (Youngtree & The Blooms, Ladylike, The High and Lonesome – violino), Darren Browne (Kubasonics, Youngtree & The Blooms, The Burning Hell – guitarra, baixo e bandolim), Hunter Madden (baixo) e Andrew McCarthy (bateria).
Logo na primeira faixa, “Overture”, percebe-se que o tempero deu certo. O clima é de bossa, mas os violinos surgem para avisar que o Rio de Janeiro está bem distante. O que não acontece em “Manhã de Abril”, que traz uma sensação de pertencimento a qualquer lugar, sob qualquer temperatura.
Na faixa “Poverty”, o folk toma a frente de forma melodiosa e envolvente, e se mostra mais como uma trilha sonora. “I Can See Our House From Here” foi o cartão de visita do disco e seu viés é nitidamente radiofônico. Além de trazer ecos dos anos 90.
Em uma nova virada, “Home” mira na cena que formou nomes como The Band, Joni Mitchell e Neil Young. Como dar errado? Já “Sabiá” é praticamente autoexplicativa; bossa/folk com cara de sol da tarde. “Dias Que Não Tem Mais Fim” apresenta um acento à mistura provida pelo duo ao dar ‘voz’ ao bandolim, representando o atlântico canadense, em contraponto com a pegada ensolarada da canção.
O desfecho se encontra próximo, mas nem por isso o nível cai. Muito pelo contrário: “We Are The Same” lembra, de alguma forma, as baladas western pelo seu clima contemplativo. Mas a cereja do bolo ficou por conta de “Elizabeth, At Least You Tried”. É o momento em que ambos acertam bem na mosca; desde as melodias vocais ao modo como a canção flutua e cresce no decorrer de seus quase 4 minutos.
Dizem que “lar é onde seu coração está”, e no caso deles, nunca foi tão dividido, no melhor dos sentidos. O que é um alento para o ouvinte, por se deparar com um álbum consistente, cativante, mas sobretudo feito com segurança. Cortesia desta química que vem dando certo desde o autointitulado play de 2020. Sensacional.
Ainda:
+ Em maio o duo começa seu giro passando por cidades do lado atlântico do Canadá. Também há previsão de retorno ao Brasil para algumas apresentações.
Ouça Our House From Here na íntegra a seguir:
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