Rock alternativo além da irreverência
Por Luiz Athayde
Um dos piores erros que qualquer fã de música pode cometer é julgar uma banda por apenas 1 faixa, ou mesmo videoclipe. Quando este recebeu o material da banda, ou melhor, do músico Aletrix, de São Paulo, foi exatamente o que aconteceu. Até porque, nada contra, mas “irreverência” não é o nosso forte.
Bom, ledo engano: doses inteligentes de humor – que muitas vezes somente o próprio artista entende – não significa que seja algo bobo e, principalmente, sem nenhuma intenção. Não bastasse isso, suas influências navegam pelo suco do rock alternativo dos anos 90, com aquele viés punk rock. Me refiro ao pequeno, mas vigoroso EP Aceito Sua Carona.
Editado por carimbo independente, o registro chega dois anos após o play estendido Jardinado, e com um espaço de tempo de nove anos em relação à sua estreia discográfica, Herpes aos Hipsters. As 6 faixas foram gravadas durante o auge da pandemia, em pleno distanciamento social, pelo guitarrista e vocalista Alexandre Lemos, a baixista Mia Manson e o baterista Matheus Souza. A mix e a masterização ficou a cargo de Hugo Silva, diretamente de seu estúdio em São Paulo, o Family Mob.
Todas as canções seguem o modus operandi alternativo, rasgado e com poesias em português como se feitas sob encomenda para o cotidiano da terra da garoa, mas, no fundo, serve para qualquer lugar do país. Sonicamente, a faixa-título ressoa como se Marilyn Manson tivesse voltado de uma balada em Palm Desert com o saudoso Mark Lanegan, dada a tamanha aspereza e força no refrão: “Eles me entendem”. Será?
“Latia Fogo” é punk rock sem amarras ou frescuras, ainda que soe bem melódica. E é aí que mora o charme: basta um bom riff, uma boa pegada e uma melodia que te cative logo de início para ir em frente. Já “Black Friday”, a que ganhou videoclipe, é daqueles sons que podem te fazer torcer o nariz, mas a partir do momento em que o ouvinte adentra na sua proposta, ela se torna um dos pontos altos do play.
Na sequência a banda vem de “Cavalo Torresmo”. Aqui, eles se permitem desfrutar de um rockabilly tão gostoso quanto um petisco de boteco de esquina. “The Frog” é o retorno do punk, mas com um rock mais cheio, sujo e com vocais quase inaudíveis. O encerramento se dá de forma nada pop, mas a experimental e spoken word “Bodes Quando Choves”.
No fim das contas, se sua vibe está mais para pilares como Pixies, L7, Sonic Youth, Ramones e correligionários, este é um pequeno trabalho que agrada e muito. Mas a melhor parte nem é pelo fato de ser cantado em nossa língua materna, mas por não soar um pastiche nostálgico de tudo que foi citado acima. Aceite este EP.
Ouça na íntegra pelo Spotify.