Fechamento eletrônico não poderia ser mais assertivo
Por Luiz Athayde
Olha, melhor que a expressão gringa: “best of both worlds” (melhor dos dois mundos) é a “tudo junto e misturado”, tem muito mais a ver com este fantástico lançamento.
Pois é, uma das grandes surpresas do ano é justamente um fechamento que não poderia ser mais assertivo: dois pioneiros de suas respectivas esferas gravaram um disco cheio. Juntos. Transhuman.
De um lado, juntamente com a falange pioneira da música eletrônica Kraftwerk, o baterista, produtor e compositor Wolfgang Flür lançou alguns dos álbuns mais influentes de todos os tempos, incluindo Autobahn (1974), Radio-Aktivität (1975), Trans Europa Express (1977), Die Mensch-Maschine (1978), Computerwelt (1981) e mesmo Electric Café (1986), quando a música eletrônica já não era uma novidade.
Do outro, o “submarino sônico” U96, comandado por Ingo Hauss e Hayo Lewerentz, que fez nome e reeditou as normas do cenário Techno com Das Boot, de 1992 – o título do registro também é conhecido por ter sido inspirado no longa homônimo do diretor Klaus Doldinger, de 1981; “U96” é o nome do submarino no filme.
Como dito anteriormente, a parceria entre os dois titãs da música sintetizada não é nenhuma novidade; em 2018 o primeiro single colaborativo “Zukunftsmusik” chegou pelo carimbo de Lewerentz, UNLTD Recordings, resultado de altas trocas de ideias, arquivos e remixes.
O transumanismo é descrito como um movimento intelectual criado com fins de transformar a condição humana por meio de desenvolvimento tecnológico, ou seja, ampliar suas capacidades físicas, intelectuais e psicológicas. Mas aqui, musicais. A faixa título soa como uma bela introdução e já dá sinais desta melhora, enquanto “Hamburg – Düsseldorf” faz conexões diretas com vias constantemente usadas pelo duo.
“Specimen” e “To The Limit” são as que provavelmente pegarão em cheio a velha guarda das raves dos clubes europeus, ainda que num todo não soem como típicas faixas dos anos 90.
Dos vários momentos kraftwerkianos, “Transhuman” se destaca pelo dinamismo, bem como “Shifted Reality”, ao pegarem “Man Machine” emprestado para compor a aura da mesma. Já “Zufallswelt” aparece bem no meio, no momento certo, dando uma quebra no “technowerk” com seu electropop de orientação house.
Não bastasse isso “Let Yourself Go” quebra tudo com seu futurepop radiofônico e ao mesmo tempo surpreendente, já que é a faixa que mais destoa do álbum. Não deve ser por acaso que a encaixaram por último.
Sendo mais claro, a genialidade da interpretação germânica do transumanismo é a capacidade de navegar sutilmente ou não por tantos subgêneros deste que é apenas mais um ‘uni’ do multiverso musical.
Transhuman é potente, dinâmico, sonicamente arrojado e, sobretudo, synthpop; sintético para todas as variantes, pop para todos os gostos. Belíssimo disco na pandêmica classe de 2020.
Ouça o álbum completo no Spotify:
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