Desmaios no set, improvisos, iniciação em The Psychedelic Furs e muito mais
Por Luiz Athayde
Neste dia, em 1985, um dos mais icônicos filmes adolescentes era lançado: The Breakfast Club; no Brasil, como Clube dos Cinco, e com lançamento oficial no dia 28 de junho daquele ano.
Comentar a importância lúdica e ao mesmo reflexiva que esta produção norte-americana teve para adolescentes dos anos 80, 90 e até mesmo do começo deste milênio, é chover no molhado, especialmente se olharmos para trás e percebermos que o filme vem de uma época em que “filme adolescente” era algo a ser levado a sério.
Ao contrário do que se imagina, bastidores de filmes não são exatamente um glamour. Pelo contrário; a dificuldade parece ser uma máxima inconsciente de quem produz, atua e claro, dirige. Como o saudoso John Hughes.
A fim de celebrar mais uma vela – não confundir com outro filme de Hughes, Sixteen Candles – o Class of Sounds fez uma seleta de curiosidades envolvendo o Clube dos Cinco, sob chancela indireta (e parcial) do portal HuffPost, e o documentário Don’t You Forget About Me. Vamos lá.
1 – O que não faltou foi improviso. Inclusive na cena dos alunos compartilhando suas histórias
Além da clássica citação de David Bowie sugerida pelo elenco, Hughes se demonstrava cada vez mais aberto a incorporar mudanças quando os atores de desviavam do roteiro. “John era bem receptivo às sugestões dos atores”, disse o diretor de fotografia Tom Del Ruth ao HuffPost, continuando: “Ele queria que eles se sentissem à vontade e isso dava muito espaço a eles. Se houvesse uma ou duas falas ou até um parágrafo que se encaixasse bem com o personagem ou enriquecesse o enredo, John simplesmente mudava o roteiro na hora.”
2 – John Hughes “iniciava” os atores com suas músicas prediletas no set
No documentário tributo Don’t You Forget About Me, de 2009, Judd Nelson revela essa outra grande paixão de Hughes: “Lembro-me de John vir ao set e falar das músicas… e tocar essas músicas para nós. Eu ficava encantado. Isso gerou um novo sentimento na indústria cinematográfica. Você podia fazer um filme… que atingiria um público adolescente, em grande escala… com a música e o filme.” (…) “Ele disse que escreveu a primeira versão de Clube dos Cinco sentado numa sala ouvindo música. Ele foi o primeiro a conhecer The Psychedelic Furs”.
3 – Judd Nelson quase foi demitido por encarnar o personagem mesmo fora do set com Molly Ringwald
Segundo a diretora de elenco, Jackie Burch, que já conhecia o ator de trabalhos anteriores, Nelson incorporou o personagem usando a técnica teatral de Stanislavski, ou ‘O Método’. Ainda assim, ela recebeu uma ligação do set. “ ‘É melhor que o Judd se controle ou ele vai embora!’ “, contou. “Mas eles eram adolescentes! Alguns deles eram menores de idade. Mas a Molly tinha a atenção do John, lembra? Eles estavam muito chateados e achavam que Judd estava exagerando. (…) Ele é um ator completo no sentido de que se entrega ao personagem dentro e fora da tela.”, disse.
4 – Molly Ringwald possuía enorme influência ante o diretor John Hughes, inclusive sendo possível pivô da demissão de uma atriz
Diretores de filmes também são conhecidos por terem uma musica, atriz predileta. E Ringwald foi a de Hughes, especialmente nessa produção. Mas a proporção de influência tomou ares mais drásticos, revelou Burch: “Havia uma outra garota no papel de professora de educação física e não sei se a Molly achava que não se encaixava bem ou coisa assim, mas eles a tiraram do filme”, e continua: “Aquela atriz ficou arrasada, claro, mas depois ela acabou dirigindo filmes. Nos bastidores, John escutava o que a Molly dizia.”
O HuffPost chegou a solicitar um pedido de comentário por parte de Ringwald, mas sua assessoria não respondeu.
5 – Apesar de interpretar a personagem Claire, Molly Ringwald queria mesmo era o papel de Allison, de Ally Sheedy
Desde o começo o papel de Claire era cobiçado por Ringwald, mas Jackie Burch se adiantou e reportou a Hughes. “Na metade do processo, Molly queria o papel de Ally, e logo falei para John: ‘Não, isso seria um erro tremendo!’ Graças a Deus, ele não fez aquilo! Acho que teria estragado o filme. Eu achei aquilo ridículo.”
6 – O filme quase se chamou “A Turma do Almoço”
Segundo a figurinista Marilyn Vance, o título no roteiro era “O Clube dos Cinco”, mas na verdade seria outro. “Seria chamado ‘A Turma do Almoço’ ”, disse ela. “Mas uma amiga de John que trabalhava em outra escola tinha uma sessão para alunos de castigo chamada ‘O Clube do Café da Manhã’ [The Breakfast Club], então ele decidiu usar o nome sugerido por ela.”
7 – Pela dificuldade ao arrumar roupas pretas, o figurino de Allison (Ally Sheedy) foi todo feito à mão
Vance teve papel fundamental na confecção dos figurinos, especialmente por levarmos em conta que a década de 80 era colorida. Bem colorida. Dada a dificuldade por achar peças pretas e cinzas, ela fez tudo à mão para a personagem de Sheedy. “Eu não consegui achar nada que poderia caracterizar a personalidade dela como alguém que não se encaixava no grupo”, revelou. “Precisávamos de uma roupa preta e cinza, sem graça e triste. (…) Não sei se você lembra dos anos 80, mas meu Deus… Era cor pra todo lado”, relembrou.
8 – Devido ao forte calor no set, integrantes da equipe e do elenco chegavam a desmaiar
Uma das coisas interessantes do filme é a sensação de confinamento que o mesmo traz. E por vezes, a imaginação do quão quente devia ser aquilo… E de fato, era: set fechado, necessidade de bastante iluminação, calor passando dos 40 graus. “Muitas vezes eles pegavam no sono por causa do calor. Começavam a roncar”, revelou Del Ruth. “Tínhamos que mandar os assistentes de direção ir lá e acordá-los no meio das cenas. Tivemos que contratar dois assistentes de direção a mais só para cuidar do segundo andar e manter a equipe acordada, para que não roncasse e estragassem as gravações de áudio”.
9 – Originalmente, o zelador seria Rick Moranis
Moranis estava em alta devido a sua participação em Os Caça-Fantasmas, um grande sucesso de 1984. E como estratégia, seu nome foi cotado para o papel de zelador, mas acabou substituído por não saber equilibrar a seriedade do personagem ao seu jeito cômico.
“Ele se recusava a interpretar o personagem… bem, digamos que foi uma diferença criativa”, comentou Del Ruth. E concluiu: “O diretor realmente não tinha outra escolha a não ser substituí-lo. Ela estava sendo mais cômico do que o papel pedia. Era necessário que esse personagem fosse um pouco sério, já que ele era o ponto de equilíbrio. Todos os outros estavam nos extremos.” Bom, para a felicidade de muitos, o papel acabou ficando com John Kapelos.
10 – No roteiro original, Brian (Anthony Michael Hall) teria dificuldade de aprendizagem
Hall teve presença garantida no filme como o nerd após Burch e equipe conferirem sua participação em Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles). Até então, havia uma série de dúvidas de como o personagem Brian deveria ser abordado. “As pessoas estavam tentando fazer dele, tipo um garoto ‘especial’. Era bizarro como as pessoas interpretavam aquele personagem”, contou Jackie Burch.
11 – Devido a baixa estatura de Emilio Estevez, John Hughes transformou Andrew Clark de futebol americano para lutador
Estevez era o ator que mais se enquadrava no “padrão” americano. Por isso mesmo Burch o queria de qualquer maneira no filme, tanto que originalmente ele seria um jogador de futebol americano, mas sua baixa estatura o impediu de executar essa aptidão do personagem.
Ela comentou: “Ele é muito baixo. Minha preocupação é que ninguém acreditaria que ele era jogador de futebol”. Daí veio a ideia para converte-lo em outro tipo de esportista. “Fizemos cortes na camiseta dele para que parecesse mais como um lutador”. Além disso, a nova cara lhe deu uma aura mais gente fina. “Ele não era um babaca. Havia um lado humano no seu papel.”
12 – Antes de Judd Nelson, Nicolas Cage e John Cusack foram cotados para o papel de Bender
Uma das maiores preocupações no set era obter nomes de peso – apesar da tentativa em vão com Moranis –, e o primeiro a aparecer foi Nicolas Cage. Havia John Cusack, que ainda era desconhecido, mas já contava com outros trabalhos. Burch relembra: “Estavam falando do Nicolas Cage, mas eu sentia que Judd seria perfeito – o ingrediente que faltava”. Em relação a Cusack, Burch foi ainda mais direta: “Eu não queria John Cusack. Não achava que ele seria certo para o papel. (…) Hoje em dia ele faz papéis mais sombrios, mas na época ele ainda era um garoto bastante conservador do centro-oeste”.
13 – Simple Minds não queria fazer parte da trilha sonora
Certamente, uma das coisas que mais marcaram Clube dos Cinco foi sua trilha. Mesmo sendo uma produção hollywoodiana e das grandes, o Simple Minds não se empolgou em assinar “Don’t You Forget About Me”, a música tema do filme. O motivo? Não era uma composição da banda. O vocalista Jim Kerr relembrou: “A gravadora na época veio e disse: ‘Há um filme saindo. Fazer parte da trilha sonora vai coloca-los no lugar onde vocês querem estar’ “.
Após Keith Forsey , o autor da música, vencer Kerr no cansaçoo grupo topou, desde que ao menos a mesma sofresse algumas mudanças. “Não tínhamos um final para a música… e pensamos… Vamos dividi-la. Mas eu não tinha uma letra. Então eles a pegaram e fizeram um lindo crescendo e não me deixaram nada para cantar, exceto… [la, la la la la…] (…) Foi a canção que não era para existir.”
A cisma foi tão grande que, mesmo com o sucesso avassalador, os escoceses não incluíram o single no registro seguinte, o álbum Once Upon A Time, do mesmo ano.